* O principezinho tirano *
Num reino longínquo,
Uma rainha se desesperava
Por não conseguir ter filhos.
E sempre se lastimava.
— Temos de ter um! Dizia o rei.
— Para quem meus bens deixarei.
Como meu pai me deixava.
E assim sucessivamente,
Desde o princípio da criação
Do primeiro pai sobre a Terra
A quem darei minha benção.
E entregarei minha coroa,
Quando os meus ossos numa boa
Se tornarem sem utilização.
— Quando o quadro terrível
Da velhice me estiverem a pintar,
— Exclamou sorrateiramente a rainha,
Que tinha vontade de engravidar.
Ela não queria envelhecer.
Sem um filho conceber
Também não queria adotar.
— Mas não deixa de ter razão:
Precisamos ter uma criança.
A rainha consultou os manuais
E os médicos da vizinhança
Mais sábios e poderosos,
Quem sabe até milagrosos
Estavam cheios de esperança.
Por fim, graças a um deles,
Um bebê começou a se mexer
No ventre da esperançosa rainha
E depois começou a crescer,
— Cuidado! O médico a preveniu.
— Este principezinho que pariu
Será vosso tesouro e prazer.
Mas não lhe deem mimo demais.
Não se apressem em rei lhe tornar.
No entanto, mal virou as costas,
Todos foram lhe bajular.
Estava protegido de tudo
Era o mais puro absurdo
Como poderia rei se tornar.
Para que se aquecessem,
Construíram um sol artificial
Da mais leve brisa e sopro,
Da pequena nuvem glacial
Que não queimava sua pele rosada,
E que fornecia vitamina esperada.
Ele cresceu nesse mundo irreal.
Tranquilamente, em silêncio.
E cheio de tirania,
Seus desejos eram ordens
E agia com soberania.
Quando completou sete anos,
Acharam convenientes seus planos
De lhe tirarem da prisão que vivia.
— Meu filhinho, já és grande!
Disse sua mãe ao lhe beijar.
— O príncipe com desdém.
— È pois pare de me beijar,
Autorizo que me beijem os pés.
Já são meus súditos fiéis
Agora sou eu que vou mandar!
Dirigiu-se ao pai nestes termos:
— Passa para cá a tua coroa!
O velho rei entregou-lhe atônito
Sem dizer uma palavra numa boa.
Porque nunca havia dito “não”
Mesmo sentindo uma decepção
Não era uma coisinha atoa.
E assim o principezinho
Em rei se transformou.
Um rei tirano e malvado
Que a todos afrontou.
Todas as árvores mandou cortar,
Somente para se vingar
Porque uma ameixa lhe alcançou.
Mandou espantar os passarinhos,
Porque de manhã cantavam,
Prendeu sua mãe no 100º andar
Por que dos bichinhos gostava
E mandou fazer coisas ilegais.
Deixando de fazer seus deveres reais
De vez em quando o principezinho gritava.
— Sinto-me sozinho! Estou triste!
Ninguém gosta de mim!
Quando viu aquele disparate,
O velho rei pensou ser seu fim.
Parecendo um mar enraivecido.
— Anda cá, meu patife! Atrevido!
Por que está fazendo assim?
— Que má sorte a minha,
Ter um filho tão mal educado!
Um rosário de palavrões
O rei falou inconformado.
— Agora vais levar um bofetão,
Nunca te encostei a mão
Mas vejo que está necessitado.
A rainha, fechada no 100º andar,
Ouviu os gritos e desmaiou.
- Seremos condenados à morte.
Foi isso o que ela pensou.
Mas não foi o que aconteceu.
O príncipe a coroa devolveu.
E calmamente ao rei falou.
— Perdão, papá perdão.
O velho rei recuperou o poder.
Libertou a mulher e disse-lhe:
— Serviu para a agente aprender.
Bem que o médico nos avisou,
Mas a gente nem escutou
Por isso tivemos que sofrer.
E a vida continuou como antes.
Com o rei a comandar.
Todos estavam mais felizes
O príncipe somente a brincar.
E a ouvir histórias divertidas
O rei contava sua vida.
Todo dia após o jantar.
Que esta sirva de lição
Para muitas famílias que vejo
Os filhos comandando a casa
Realizando todos os seus desejos
Isto não pode dar certo
Se a gente olhar de perto
Falta pulso firme mais que beijo.