* A águia de asas partidas *
Ele possuía muitas riquezas.
Tinha as arcas abarrotadas
De ouro e gemas preciosas.
A juventude sorria isolada.
Seus amigos se faziam presentes
Nos banquetes que dava sorridente.
E sua vizinhança era convidada.
Habituara-se a relaxar,
Para dormir e sonhar.
Em seu leito de ébano e marfim.
Com algo que queria realizar.
As vitórias que enriquecia seus dias.
E um desejo de paz que não fruía.
E nem lhe deixava trabalhar.
A felicidade não era total.
Faltava algo no seu inconsciente.
Ao mesmo tempo, ele temia,
Perder a felicidade do presente
E do momento desfrutava.
Por isso tanto procurava,
E era tão exigente.
Por isso, ouvindo falar,
Daquele Homem singular
Que andava pelas estradas
Resolveu o procurar.
Para ao mestre perguntar,
Que bem se deve praticar
Para a vida eterna alcançar?
Como desejava saber.
A resposta veio sonora e clara:
Por que me chamas bom?
Bom é o Pai ele declara.
À sua pergunta, respondi.
Fiquei entusiasmado e o segui
E com a perfeição se depara.
Cumpra os mandamentos,
Isto é, não adulterarás,
Não dirás falso testemunho,
Não matarás, não furtarás,
Honrarás sempre mãe e pai.
Fazes tudo isso, vai.
E assim se salvarás.
Tudo isso tenho observado
Desde a minha mocidade.
Sinto que não me basta.
Surdas inquietações me invadem,
Consome-me e me atormentam.
Faltava-me algo, que esquentam!
Labaredas de ansiedade.
O senhor lhe propõe-lhe a Luz
Vende tudo quanto tens,
Reparte-o entre os pobres.
Vem, e segue-Me também!
A ordem, a meiguice e a paz.
Que aquele Homem traz
Ele nunca viu em ninguém.
E ecoava em seu Espírito.
Ele era uma águia que desejava
Alcançar nas alturas.
E este homem lhe encantava
Mostrando-lhe como utilizar
Suas as asas para voar
O mais alto que imaginava.
Pela mente em turbilhão,
Passa as cenas de luta e glória
De tudo que conquistaria.
Tantos esperavam a sua vitória.
Os amigos lhe confiavam.
Todos felizes aguardavam
Seu triunfo nessa história.
Ele renunciou os bens de família,
Às riquezas da vaidade,
Ao tesouro da juventude,
Aos caprichos da felicidade,
Tudo ele veio renunciar
A águia desejava voar,
Mas não conseguia na verdade.
Suas asas estavam partidas...
Recorda-se num estremecimento.
- Não posso! O murmura.
Não posso, no momento.
Perdoa-me Senhor.
E a passos largos se afastou.
Demonstrando muito sofrimento.
Subindo a encosta, numa curva,
Ele se deteve e olhou para trás.
Vacilou ainda uma vez.
A Luz o chamava uma vez mais.
A figura do Mestre na paisagem,
Nos raios do luar a imagem.
Daquele que trazia a paz.
Indecisa, a alma do moço,
Parece um pêndulo oscilante.
A águia ainda tenta alçar o voo.
O peso do Mundo num instante
A retém no solo a sofrer.
Ele se decide a correr,
E desaparece na noite brilhante.
Nem poderia ser diferente,
Fora-lhe dada á oportunidade
De se precipitar no oceano
Do amor e da felicidade
Ele preferira as areias vãs
Do Mundo e dos amanhãs.
Mas enfrentou com seriedade.
Ainda somos como o moço rico.
Pensamos em questões pessoais
E deixamos para mais tarde,
As coisas mais especiais
A felicidade é por um segundo
A alegria efêmera do Mundo
Analise o que vale mais.