Esta cara...Este cara sou eu?
Esta cara... Este cara sou eu?
...Olho-me no espelho.
Ui! Que susto!
Quem é este velho? Eu já o vi?
Conheço-o?
Cara enrugada, no caído queixo, uma saliente papada,
opacos olhos e, sob eles, olheiras generosa bolsas arroxeadas.
Que cara é este?
Anos a fio vendo esta cara guarnecida, escondida por óculos.
Agora, onde os óculos?
Caros, muito caro, caríssimos óculos!
Modernos, na moda. Todos só notam os aros, a armação:
tartaruga, titânio ,carbono, fibras, cor... Lentes, nem tanto, elas não encantam.
Leves, muito leves, levíssimas... Não incomodam, não cansam.
Livres deles, um barato!
Mas e a cara?
Nariz enorme perdido entre rugas, limitado por um “bigode chinês” acentuado,
pele amassada como se fora maduros jenipapos ou maracujás, espremidos, amassados
Óculos, por que me abandonastes?
-“È a ausência das cataratas?”-
Saudades do meu fiel adorno, meu charme, meu disfarce,
do meu “engana-me que eu gosto”. Saudades sim, não é disparate.
“Onde o “esconde-esconde” uma velha face?”
“Orra” o meu”! “Este cara aí sou eu”?
“Não sei não cara. Você de óculos era mais, mais”...
Credo!
BNandú abr/2014