Vertentes
I
Rio que corta as dormentes,
Que derruba as "mães de rio",
Deixa as cancelas jacentes,
Tremelicando de frio,
Varrendo o chão das vertentes,
Trazendo chuva no estio.
II
Mas como bom sertanejo,
Que a minha vida não drene,
Em todo lugar eu vejo
Que exercemos fé perene.
E no derradeiro arquejo,
Que Deus nunca nos condene.
III
Eu talvez entregue o couro,
E a minha vida pacata
Para o chifre mau do touro,
Para os golpes da chibata,
Da fome, que é mau agouro;
Mas a minha fé não mata.
IV
Logo um raio com fulgor
Trará nuvens do nascente,
E vai-se embora o langor,
Toda tristeza da gente;
As roças terão verdor,
E volta a vida às Vertentes.