Vertentes

I

Rio que corta as dormentes,

Que derruba as "mães de rio",

Deixa as cancelas jacentes,

Tremelicando de frio,

Varrendo o chão das vertentes,

Trazendo chuva no estio.

II

Mas como bom sertanejo,

Que a minha vida não drene,

Em todo lugar eu vejo

Que exercemos fé perene.

E no derradeiro arquejo,

Que Deus nunca nos condene.

III

Eu talvez entregue o couro,

E a minha vida pacata

Para o chifre mau do touro,

Para os golpes da chibata,

Da fome, que é mau agouro;

Mas a minha fé não mata.

IV

Logo um raio com fulgor

Trará nuvens do nascente,

E vai-se embora o langor,

Toda tristeza da gente;

As roças terão verdor,

E volta a vida às Vertentes.

Jarrê
Enviado por Jarrê em 11/04/2014
Código do texto: T4765422
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