* A Borboleta e o Cavalinho *
Um cavalinho e uma borboleta
Em comum não tinham nada.
Mas em certo momento da vida
Deram uma aproximada
E criaram um elo bonito.
Desses que quase não é visto
Nesta vida atordoada.
A borboleta era livre,
E para todo canto voava
Enfeitava a paisagem,
Da floresta que morava.
Já o cavalinho, tinha limitação,
Não era bicho solto não.
E na natureza se isolava.
Certa vez, lhe colocaram.
Um cabresto por alguém
Que visitou a floresta
E acabaram também
Sua liberdade foi cerceada.
Sua vida foi transformada
Numa infelicidade além.
A borboleta, no entanto,
Embora tivesse a amizade
De muitos outros animais
E a vantagem da liberdade
De andar pela floresta a voar.
Gostava também de visitar.
E tinha uma enorme felicidade.
Gostava de sua companhia
E adorava ficar ao seu lado
E não era por pena,
Era por carinho, cuidado,
Companheirismo, afeição,
Amor e dedicação.
Um apoio multiplicado.
Todos os dias, ia visitá-lo,
E sempre um coice levava
Depois recebia um sorriso.
Entre um e outro ela optava,
Por esquecer o coice e guardar
Dentro do coração levar
O sorriso que a agradava.
Sempre o cavalinho insistia
Que a borboleta lhe ajudasse
A carregar o seu cabresto
E de vez em quando a puxasse
Por conta de ser pesado.
Sofria um bom bocado.
Por melhor que se comportasse.
Ela, muito carinhosamente,
Tentava sempre ajudar,
Mas nem sempre era possível
Ela poder lhe carregar.
Por ser uma pequena criatura,
Não tinha muita estatura
Era difícil aguentar.
Os anos se passaram
E numa manhã de verão
A borboleta não apareceu
Para visitar o seu amigão.
Ele nem percebeu, preocupado.
Que ainda estava encabrestado.
E nem tentou se livrar não.
E vieram outras manhãs
E mais outras e outras mais.
Até que chegou o inverno
E o cavalinho sentia-se incapaz
E finalmente percebeu
Que a borboleta desapareceu.
E isso tirava sua paz.
Resolveu sair do seu canto
E por ela procurar.
Caminhou por toda floresta
Sempre a observar
Cada canto onde ela poderia
Ter se escondido e não a via
E não conseguiu lhe achar.
Cansado se deitou embaixo
De uma árvore que encontrou.
Logo em seguida um elefante
Aproximou-se e lhe perguntou:
- Quem era ele e o que fazia ali?
Ambos começaram a sorrir
E o cavalinho se apresentou.
- Eu sou o cavalinho do cabresto
E procuro uma borboleta que sumiu.
- Ah, então é o famoso cavalinho?
- Famoso, eu? Quem lhe atribuiu?
- É que tive uma grande amiga
Que detestava maldade e intriga
E falava muito de você, viu.
Mas afinal, qual borboleta,
Que você está procurando?
- É uma borboleta colorida,
Alegre, que ficava sobrevoando,
A floresta todos os dias
E enchendo de simpatia
Os animais que ia encontrando.
- Nossa, era justamente dela,
Que eu estava falando.
Você não ficou sabendo?
Toda floresta está comentando
Faz um tempo que ela morreu.
Me conta como aconteceu?
O cavalinho falou chorando.
- Dizem que ela conhecia,
Na floresta, um cavalinho,
Como você e todos os dias
Quando ia visitar o monstrinho,
Dava um coice na coitadinha.
Ela sempre tão fragilzinha
Mas tinha por ele carinho.
Voltava com marcas horríveis
E todos lhe perguntavam
Quem havia feito aquilo,
Mas ela desconversava
Jamais contou a ninguém.
Hoje ela está no além,
E isso me desanimava.
Insistíamos muito para saber
Quem fazia aquela malvadeza
E ela somente respondia
Não queria falar de tristezas
Das visitas boas queria falar
E eu não poderia negar
Falava de você com grandeza.
Nesse momento o cavalinho,
Em lágrimas se derramava.
De tristeza e arrependimento.
Pelas vezes que lhe coiçava.
- Não chore meu amigo,
Sei que se parece contigo
E o quanto ela dele gostava.
Sei deve estar sofrendo.
Ela me disse que você
Era um grande amigo,
Mas entenda o que vou dizer.
Foram tantos coices que recebeu
Que a pobrezinha adoeceu.
Suas asinhas veio perder.
Depois ficou muito doente,
Triste, sucumbiu e morreu.
- Ela me chamou nos últimos dias?
- Sim sabe o que aconteceu.
- Todos quiseram lhe avisar,
Ela pediu para não lhe perturbar.
E nos falou de um problema seu.
Ele tem um grande problema
Que não pude resolver.
Carrega no seu dorso um cabresto,
Que será cansativo vir me ver.
Você pode até coices aceitar
Quando quem vier lhe dar
Também der beijos em você.
Mas em algum momento da vida,
As feridas que vão lhe causar,
Não serão mais cicatrizadas.
O cabresto que tiver que carregar
Mesmo sem você ser culpado
Não precisa ser mal educado
Não pode a ninguém maltratar.