Essa Tal de Ditadura
De um lado os canhoteiros
Doutro lado os mais destros
E o povo aqui no meio
Fazendo papel, eu receio,
De pouco mais que insetos
Soldadinhos de papel
Amantes da dita dura
Fingem crer em Deus no céu
Mas destilam só o fel
Desejando a escravatura
Soldadinhos de vermelho
Com a foice e o martelo
Mal se olham no espelho:
São um bando de pentelhos
Com os dedos amarelos
Soldadinhos sem patente
Militares sem divisas
Passam a vida contentes
Incitando toda gente
Com mentiras incisivas
Quando é ano eleitoral
Haja saco pra aguentar
Todo bem se torna mal
Todo açúcar vira sal
Em toda hora e lugar
Do outro lado promessas
Que pouco e mal são cumpridas
O suor melando as testas
C’o erário, farra e festas,
Pelos botecos da vida
Seja esquerda ou direita
Os grupelhos se amotinam
Mas é tanta merda feita
Que nenhum se endireita
E um ao outro fulminam
E o povão atordoado
Vai no embalo da fervura
Cada um escolhe um lado
Sem entender do riscado
Caminhando pra clausura
Na jovem democracia
Querem meter o facão
Ganhar a supremacia
Para sua companhia
Sob a mira de um canhão
Não se iludam meus amigos
Nada vale a ditadura
Traz consigo mil perigos
E só uns poucos umbigos
Ganham com essa impostura
A tal conversa fiada
Que é questão de segurança
É embuste, marmelada,
Pela goela enfiada
Para assustar as crianças
Digam lá, qual foi a herança
Do tal Golpe Militar:
Nas florestas só lambança
Dando falsas esperanças
De o país integrar
Quantos mortos e sumidos
Que nem eram comunistas
Até hoje esquecidos
Familiares sofridos
E o exílio de artistas
A imprensa censurada
Sem poder nada escrever
Contra a farsa vil montada
Pelas tais forças armadas
Sequiosas do poder
O que era transição
Para novas eleições
Virou foi conspiração
Para manter a nação
De cara posta no chão
Militar é muito bom
Pra defender as fronteiras
Condicionados que são
A obedecer sem razão
Qualquer ordem da cimeira
Paranoia é o que não falta
“Um inimigo em cada esquina”
Pois o medo os assalta
E de corpos se asfalta
A caserna e a latrina
De direita ou de esquerda
Que se dane a ditadura
Qualquer delas gera perda
Mudam as moscas da merda
Mas o seu fedor perdura