A BUNDA COMO ELA É...

A BUNDA COMO ELA É

Jorge Linhaça

Muitas bundas há no mundo

E cada qual tem a sua

Pode-se bem ver na rua

Tipos rasos ou profundos

Mais mirrados ou rotundos

Umas apontando o chão

Ou formando um coração

Outras apontando o céu

Bundas há a granel

Em todo canto ou rincão

A palavra ganhou força

Nos tempos da escravidão

Quando pisaram este chão

Negros homens, também moças,

Dentes alvos como louça

Do Cabo verde e de Angola

Com as nádegas em bola

Eram chamados de bundos

Sua língua o umbundo

Foi esse o salto da mola.

Os portugas nada parvos

Atentaram pra abundância

Daquela protuberância

Das nádegas dos escravos

Bem diversa dos eslavos

Apelidaram as quimbundas

Às escravas oriundas

Das tais costas africanas

E num tom mais que sacana

Passaram a chamá-las Bundas.

As Bundas e suas bundas

O disfarce era perfeito

Ficava livre o sujeito

de análises mais profundas

pra não criar barafundas

pois, nesse duplo sentido

ficava ele protegido

das más línguas faladeiras

do fiar da fofoqueiras

c’o sentido dividido

Ora mas que bela Bunda

Tão alegre e faceira

Referindo-se as cadeiras

Que na tal negrinha abunda

Generosa e rotunda

Despertando o desejo

De muito mais que um beijo

Mas de ter seu corpo quente

Em uma alcova ardente

Chocolate unido a queijo.

E a bunda se tornou

Preferência popular

Todos dela a falar

A bunda se eternizou

Muita gente já cantou

As nádegas tão por fora

A bunda é que manda agora

Zona glútea? Que careta!

Seja larga ou estreita

É a bunda que vigora.