ALMA PENADA.

Ouvi contar esta história

No meu tempo de menina

Fala de uma triste sina

De um tal Maneco Escória

Moço belo e homem feito

Das moças vivia distante

Pois tinha grande defeito

Da cachaça era amante

Os pais de filhas donzelas

Abominavam o Maneco

Filhas não iam pra janela

Maneco,coitado era treco

Maneco não se avexava

Cachaça, sua conselheira

Bebia e alguém o achava

Debaixo de uma cuiera

Chegou a grande função

Maior festa de arraial

Era grande a animação

Melhor do que carnaval

As moças casamenteiras

Iam estar todinhas por lá

Belas, todas muito faceiras

Queriam um marido arranjar

Entre todas as donzelas

Havia a mais especial

De todas era a mais bela

A Rosa Lina de Santeval

Bela, rica e mui prendada

Filha de Dirceu fazendeiro

Alem de tudo mui educada

Não era pra qualquer rameiro

Pra lá e pra cá passeando

Maneco e a bela Rosa

Acabaram se encontrando

E puxaram logo uma prosa

E Rosa caiu de amores

Pelo Maneco Escória

Pediu a Deus com louvores

Pra escrever nova história

Os encontros se sucederam

E é claro, tudo escondido

Amigos não se intrometeram

Queriam ver os sucedidos

Tudo o que é bom dura pouco

Velho Dirceu descobriu

Botou Maneco no sufoco

Que de tanto medo, sumiu

Rosa ficou prisioneira

Proibida de casa sair

A jovem bela e faceira

Via sua vida se esvair

E Maneco pobre coitado

Voltou com tudo a beber

Por um touro foi chifrado

Vindo logo a falecer

O velho Dirceu pai de Rosa

De alegria exultou

Mas de raiva escandalosa

Um praga então rogou

Que a alma de Maneco

Não tivesse paz eterna

O moço não valia treco

Nem na pior taberna

Dizem ainda que Maneco

Uma noite apareceu

Pedindo pro velho Dirceu

O seu sentido perdão

Mas este não deu ouvidos

Nem amoleceu coração

E a praga permaneceu

E a alma do pobre moço

Anda por esse mundão

Implorando a salvação

Que nem afogado em poço.