ESGOTO BATIZADO
Miguezim de Princesa
I
Pesquisa da UnB
Chegou a uma conclusão:
A elite de Brasília
Junta pó com pé e mão,
Cheira até não aguentar
Para o resto despejar
No esgoto do Varjão.
II
Uma comissão de peritos
Já está a trabalhar:
Uns cento e vinte toletes
Começou a examinar
(O mistério do Varjão)
Pra tirar uma conclusão
E o caso desvendar.
III
Contou-me Mestre Araponga,
Segurando o esqueleto,
Que um político influente,
Amante de carro preto,
Cheirou que ficou umbu
E despejou o mucumbu
Lá na Ponte do Bragueto.
IV
Pois, então, seus seguidores,
Uma cambada sem sorte,
Babões do primeiro ao quinto,
Xeleléus até a morte,
Tomavam a pílula azul,
Cheiravam à noite no Sul
Mas só obravam no Norte.
V
De dia na Esplanada
Levavam uma rotina amarga,
Trabalhando sem parar
Tal e qual burro de carga,
Cheiravam sem perceber,
Depois iam pra UnB,
De lá soltavam a descarga.
VI
Cheiravam no comitê,
Durante a reunião,
No almoço das emendas,
Também na celebração,
Na casa da rapariga
E após aquela briga
Que encerrou a sessão.
VII
Quando iam fazer acordo
Na lenga-lenga estradeira,
Ao enganar os incautos
Comprando votos por feira,
Essas caras de paisagem
Só aguentavam a viagem
Na base do cheira-cheira.
VIII
Cheira a noiva do gerente,
Cheira o chefe do setor,
O governante inseguro
Com medo do eleitor
A quem deve até o fundo,
Aqui cheira todo mundo,
Deputado e senador.
IX
Do infeliz assessor
O pó desce do nariz
Na hora de explicar
Perante o doutor juiz,
Trajado todo bacana,
De onde veio tanta grana
Pra pagar a meretriz.
X
Pois se tanta gente cheira
Em tudo que é quarteirão,
Por que só acharam pó
No esgoto do Varjão?
Ou lá tem cocô de sobra
Ou não passa de uma manobra
Do governo de plantão!