RITINHA

Maria Rita de Cássia

Mulata dos olhos de mel

Pele cor do jambo do campo

Boca pintada a pincel

Cheiro de relva molhada

No cabelo uma fita de véu

Há muito andava tristonha

Sem rumo, de del em del

Com seu jeitinho de fada

Mas sem o brilho de céu.

É que José da Farmácia

Rapaz bem posto e fiel

Andava olhando a Ritinha

Com olhos doces de mel

Deixando a mulata doidinha

Feliz como gente no céu

Mas tinha um probleminha

Tão simples, quanto cruel

Que tava deixando a Ritinha

Triste, amarga feito fel.

É que o camarada Zezinho

Tão tímido, quanto fiel

Olhava a Ritinha de longe

Sem perder aqueles olhos de mel

e, esperto, achara um jeitinho:

prendera as palavras num papel

com um beijo, selou o bilhetinho

que enviou pra Ritinha

juntinho com um anel

ficando, depois, ansioso

coração pertinho do céu

Ritinha pegou o bilhete

Logo notou o anel

Viu que cabia no dedo

Apressada, olhou pro papel

Mas o que via eram traços

Sabia: era um sentimento fiel

Mas as letrinhas, pra ela

eram um desafio cruel

Analfabeta que era

Deixou o Zezinho na espera

Adiou seu passeio ao céu.