A Professora aloprada

A professora aloprada

Jorge Linhaça

O que leva uma pessoa

Catedrática e tal

A tornar-se opressora

De quem anda ou de quem voa

Esquecendo que é igual

Como pôde a professora

Educada e formal

Virar bruxa de vassoura

Achando ser uma boa

Avacalhar seu igual?

A resposta meu amigo

Com certeza eu não sei não

Mas ouça bem o que eu digo

- se explicar-me eu consigo-

E veja se tenho razão:

Olhar só o seu umbigo

Levado pela emoção

Buscando na rede abrigo

É sucumbir ao perigo

De cair em tentação

O preconceito aflora

Vai-se embora a cultura

Enquanto um ri outro chora

Por conta da bola fora

E a resposta é dura

No caso dessa senhora

Foi-se toda a compostura

Saiu pela porta afora

Deu adeus e foi-se embora

Sobrou a tolice pura

Ao ver ela um passageiro

Aguardando um avião

Sentado ali bem faceiro

Como quem não tem dinheiro

De regata e bermudão

Veio-lhe logo o anseio

De fazer a gozação

Tirou foto ali no meio

Do saguão sem ter receio

De sofrer retaliação

Postou logo o ocorrido

Numa rede social

E o preconceito expelido

Foi lá, por muitos, sentido.

E a coisa pegou mal!

Acontece que o ferido

Pela língua infernal

Não era um esquecido

Ou um pobre combalido

Era “doutor” afinal.

É formado em direito

E atua em sua área

E ficou insatisfeito

Com o mal fadado feito

Da professora “hilária”

Veja só o grande efeito

Quando a coisa se espalha

Perdeu o cargo por direito

Pela falta de respeito

Com quem nem lhe atrapalha

Seus “colegas de trabalho”

Gostaram da gozação

Cartas do mesmo baralho

- E eu reclamo e ralho-

Doutos em educação

Se da PUC* esse é o talho

Para fazer seleção

Ou se entraram por atalho

Tirando d’outro o trabalho,

Pobres alunos então.

Eu aqui vou refletindo

Sobre o ato infantil

Nojo de tudo sentindo

- E até me reprimindo,

As palavras e o pavio-

Vou a tudo assistindo

Do meu porto sem navio

S’estes versos hoje assino

é por que vejo o abismo

Da educação do Brasil.

*Quem sabe se a PUC-RIO usasse o cordel para ensinar letras,

seus alunos e professores fossem menos preconceituosos e intolerantes quanto à aparência dos outros.