A LINGUIÇA DO MEU AVÔ !
Êsse caso é bem interessante
Embora pareça até brincadeira
Mas pra ser um bom comerciante
Não é só saber vender fruta na feira;
Tem que possuir alguma experiência
E juntar também com muita paciência
Pra não acabar fazendo besteira.
Fiquei sabendo que meu avô
Que de italianos era descendente,
Na sua venda, que de tudo tinha
Era danado de inteligente;
Vendia fiado só na confiança
Pra toda aquela vizinhança
E prejuízos não tomava daquela gente.
Ele tinha lá na sua gaveta
O caderno de toda a freguesia
Era Pedro, Paulo, José, Antônio,
Sebastiana, Joana, Maria...
Tudo o que vendia ele anotava
No fim do mês o pessoal pagava
Nova compra grande então se fazia!
Toda tarde/noite quando fechava
O seu diversificado estabelecimento,
Meu avô fazia várias contas
E puxava bem no pensamento;
Pra saber se durante todo o dia
Ele vendeu alguma mercadoria
E não fêz o devido apontamento.
Num final de semana estava sozinho
E depois de fechar sua "mercearia",
O velho ficou muito pensativo
Pois, com certeza ele não mais sabia
Tinha vendido um quilo de lingüiça
Mas, não anotou por preguiça
E agora, essa venda perderia!
A experiência juntada à malícia
Falou bem alto na sua mente,
Ele pensou: "Vou anotar um quilo
De lingüiça pra toda esa gente;
Pegou o caderno e saiu anotando
Trinta quilos já foi somando,
Aí já ficou bem mais contente.
Terminado o mês, chegou o dia
Da conta de todos ir recebendo
As pessoas só iam chegando
Perguntavam quanto tavam devendo,
Vovô falava o valor já somado
O sujeito tirava do bolso o "bolado"
E pagava com um gôsto tremendo.
O honrado comerciante que podia
Um quilo de lingüiça ter esquecido,
Vinte e oito quilos recebeu
Dos trinta que havia metido,
Na conta dos seus bons fregueses
Que pagavam certo todos os meses
Aí depois, ele ficou arrependido.
Foi então, por ser muito religioso,
Numa cidade próxima se confessar,
Pediu muito perdão a Deus
E ouviu a penitência o Padre passar:
Doou certa quantia para a Obra,
Não sei quanto pro Padre foi a sobra
Vovô, na lingüiça do Cão não quís entrar!