SAUDADES DE MINHA ANTIGA FORTALEZA

Nossa antiga Fortaleza,

Que outrora foi muito bela,

Quanta saudade nos trás,

Quando não havia favela.

Sem violência, sem buracos,

Da vida que existia nela.

Nossa querida Fortaleza

Dos vendedores de tripa,

Que anunciavam seu produto,

Batendo em caixão com ripa.

Quando ainda se vendia água

Nos famosos carros pipa.

Nossa querida Fortaleza,

Dos vendedores de peixe

Com seus produtos nas costas.

De lenha vendida em feixe.

Fígado e cuscuz paulista,

De roupa em almofreixe. (Espécie de mala)

Fortaleza dos famosos

Refrescos de pega pinto,

Lojas Quatro e Quatrocentos,

Abrigo Central já extinto,

Da Girão, da Vox, Lobrás

Que grande saudade sinto.

Casa das Máquinas, Romcy,

Ocapana e Abarama,

Do Magazine Sucesso,

Da Casa Bicho, Alabama,

Helena de Troia, Gontran

Carvalho Borges e Flama.

Das lojas Irmãos Carvalho,

Belas Artes, Damasceno,

Do Kury, Eletro Alencar.

Do seu clima bem ameno,

Dos seus campos de subúrbio

Onde hoje falta terreno.

Dos Cines Fortaleza, Art

Diogo, Samburá, Jangada.

Refresco de pega pinto

Tomado de madrugada

Ali na Praça do Carmo

De ônibus foi parada.

Da Cooperativa Agrícola

Do seu Moisés Pimentel,

Na Miscelândia comer

Um delicioso pastel.

Das alunas do Liceu.

E do Clube do Teteu.

Das fardas das estudantes

Com suas saias plissadas,

Que na Praça do Ferreira

Com vento eram levantadas.

Do ônibus do verdureiro

Às quatro da madrugada.

Nossas tertúlias famosas.

Dos clubes que dão saudades:

Maguari, Romeu Martins,

Uberlândia, Padre Andrade,

Massapeense, Iracema.

Ali perto da Piedade

Tinha o Quitandinha

América, Santa Cruz,

Tirandentes, Terra e Mar,

E ônibus do Serviluz,

Líbano, Comercial,

Panelada com cuscuz.

Clube de Regatas Barra

Do Ceará e o Tiro-Linha,

Secai, General Sampaio,

Dos Diários e Quitandinha,

Tinha também Irupuam

Que era nosso Chacrinha,

Balneário de Mecejana,

CRA e Vilão União,

Grêmio dos Ferroviário.

Que saudades da Dragão.

Clube Carlito Pamplona,

Perto do Bairro Japão.

Nosso famoso Curral

Onde hoje é o Marina.

Bem perto ficava a Cinza.

Tempo bom sem cocaína

Podia andar no Farol

Lá droga hoje domina.

E dos términos de cursos

Quando havia lindas festas.

Tantos bairros esquecidos.

Quem se lembra da Floresta?

Álvaro Weine, Atapu.

E nossas belas serestas.

Lido, Arraial Moura Brasil,

Famoso Alto da Balança,

21 de Janeiro,

Ao som dos Jovens se dança.

Praia de Meireles, Ideal.

Tardes no Parque da Criança.

Parque Americano, Itaoca,

Autran Nunes, Vila Sarita

Os Brasas, Paulo de Tasso

Também Lojas Esquisita.

Quilômetro Oito, Colônia,

No Ceará jogava Ita.

Fortaleza tinha os Gomes,

Pedro Basílio, Lulinha,

Os Amiltons Rocha e Melo,

Carlito no Ceará tinha,

Gildo, os irmãos da Costa.

Meu tricolor de Croinha.

Programa Bola de Meia,

Do José Oli Moreira,

E a banca do Bodinho

Lá na Praça do Ferreira.

Antenas e Rotativas

Com notícias de primeira.

No antigo Abrigo Central,

O Pedrão da Bananada

Um restaurante mantinha.

Também tinha batucada,

Gumercindo e sua charanga

No PV com muita zoada

Saudade da Fortaleza

Do Benzinho e do Bem

Do Lido e do Estoril,

Da Fascinação também,

Da Meia Noite da Oitenta,

Da Leila com seu harém.

Não podemos esquecer

Beco, San Troper, Ladeira,

Da Vó e do Cirandinha,

hoje tem Beco da Poeira.

Do famoso Senadozão.

Pirata só segunda-feira.

Muito menos da mudinha.

Que ganhava capital,

Fazendo ponta na praia

Ali bem perto do Ideal.

Se pesar na Osvaldo Cruz,

Um mudo fazia sinal.

Do nossa café Walcan.

Saudade da Fortaleza

Outrora muito tranquila.

Hoje violenta ainda bela.

Embora os seus subúrbios

Estejam cheios de favelas.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, FEVERIRO/2014.