APERREIO COM OU SEM FÉ
Este cordel já fora publicado com outro título. Como o aperreio não passou, as orações continuam assim como as dúvidas, resolvi publicá-lo novamente com algumas estrofes novas e acrescentadas.
Aviso ao leitor eu dou
Aqui quem protesta, roga
Apesar de que eu não vivo
Nos bancos de uma sinagoga
Tencionei pôr neste escrito
Numa oração, o meu grito
De um cristão que sua fé advoga
Queira Deus me escutar
Nesta pequena oração
Pois sou filho duas vezes
Do bom Deus e do sertão
Dos dois ando envergonhado
Vendo o povo abandonado
Vendo sofrer meu irmão
Devo Lhe pedir perdão
De antecipado motivo
Porque sei que meu cordel
Parecerá agressivo
Fruto do Seu abandono
Por permitir neste mundo
Homem de outro cativo
Vejo multidão clamando
E a proteção não está vindo
Acaso os anjos e santos
No céu, não estão ouvindo?
Ou talvez nosso gemido
Não está sendo atendido
Porque lá estão dormindo?
Deus, não és o mandachuva?
Porém a chuva não veio
Sem roçado, sem fartura
No sertão sobra aperreio
Aperreio ensolarado
E Cristo aí ao seu lado
Sem fazer nada é tão feio
É com reza e procissão
Que lhe agradece essa gente
Quando é boa a invernada
Quando a seca está ausente
Se é o Senhor que entrega
Também deve ser quem nega
Deixando esta terra quente
Só para exemplificar
Absurdo eu contarei
Poderia eu comparar
Um trabalhador com um rei
Mas vou fazer diferente
Comparar bicho com gente
Logo abaixo isso eu farei
Porque gado aqui na terra
Come o que muitos não têm
O boi valendo um milhão
O pobre nem um vintém
O Deus que isso permite
Faça um favor me evite
Para todo o sempre amém
Na Síria, eu tenho assistido
Sofrer adulto e criança
Acaso tem permitido
Toda aquela matança?
Diga que não é verdade
Que não venceu a maldade
Que não mataram a esperança
Velhos, mulheres, meninos
Por si vão se defender?
Indefesos, impotentes
Certamente irão morrer
São ovelhas inocentes
Vítimas dos insolentes
Quantos mais vão padecer?
A ONU é um serviçal
Uma farsa e nada mais
Tá do lado de quem pode
Não é agente da PAZ
Ela é coveira somente
Engana o povo inocente
É omissa contumaz
O Senhor que tudo pode
Só oferece promessa
Podendo nos dar justiça
Nos manda aguardar sem pressa
Veja que justiça ausente
É injustiça somente
Que tudo isso confessa
Com fogo, guerra e com sal
Sodoma até hoje arqueja
Quem foi vítima de abuso
Não é a paz que almeja?
Mas ao invés de punição
Só lhes deram proteção
Aos criminosos da Igreja
Até ontem eu acreditava
Na força da disciplina
Aprendia com fervor
Livros eram uma mina
Deixo de lhes dar louvores
Afinal são os doutores
Nossas aves de rapina
A Europa que eu vejo
Despreza a população
Lhe oferece desemprego
Mendigos sem casa ou pão
Outro dia, eu escutava:
Que o povo jamais passava
Fome com educação
Termino, Senhor, agora
Minhas preces, meu gemido
Nas entrelinhas se encontra
Afinal o meu pedido
Portanto agora convém
Em nome de Cristo, amém
Aguardar ser atendido