O CAVALO E O LOBO (Baseado na fábula de La Fontaine)
Numa bela primavera,
Sob o sol do meio dia,
Às margens de um ribeirão,
Com bastante alegria,
Um cavalo se fartava
E a toda a relva comia.
E nem sequer percebia
Que o perigo o rondava,
Escondido entre arbustos
Um lobo o espreitava,
E, cheio de má intenção,
A tal fera resmungava:
- Puxa, que belo animal!
Já daria um bom almoço,
Mas ele é muito grande
Pode engasgar meu pescoço,
Se eu não tiver cuidado,
Posso me ferir com um osso.
Se ele fosse um carneiro,
Um bezerro ou um burro,
Um animal mais fraquinho,
Eu o abatia com um murro
E depois eu o desossava,
Nem ligava pro seu zurro!
Porém, como ele é grande,
Não passa na minha goela,
Eu que sou inteligente,
Não arrisco minha costela,
Vou inventar logo um truque
E ele cai na esparrela.
E assim o lobo astuto,
Todo faceiro e contente,
Foi encontrar o cavalo
E, com cara de inocente,
Saudou-o com euforia,
Dizendo-lhe alegremente:
- Bom dia, meu companheiro!
A manhã está radiante,
Sei que tu não me conheces,
Apresento-me num instante,
Porque os deuses me deram,
Um cargo muito importante.
Dos animais sou o médico
E os males eu sei curar,
Conheço todas as ervas,
Também sei manusear,
O resultado é instantâneo,
Um alívio! Vou te contar!
Aos amigos que padecem,
De qualquer enfermidade,
Eu vou logo socorrendo,
Pelas vilas da cidade,
Quero todos com saúde
E também com felicidade.
Eu faço tudo de graça,
Quero mesmo é socorrer,
O que os deuses me deram,
Eu não consigo vender,
E se alguém sente dores
Só precisa me dizer.
Tens problemas de saúde?
Eu logo te curarei!
Não preciso de dinheiro,
O dom, de graça, eu ganhei
Quero saber onde dói,
Que um milagre farei!
O cavalo que já ouvira,
Notícias sobre o impostor
Que andava fazendo a praça,
Com o título de doutor,
Quis acabar com a farra
Desse lobo sem valor.
E inventou logo um plano,
Para o lobo se dar mal,
Começou louvando aos deuses,
Com vivas e coisa e tal,
E o lobo todo feliz,
Parecendo um general.
- Benditos sejam os deuses
Que te mandaram então,
Ando mesmo adoentado,
Já faz até um tempão,
Acho que nem tenho cura,
Meu Deus, que situação!
Mal consigo suportar
Tanto é o sofrimento,
Tumor nas unhas dos pés,
Para mim é um tormento,
Eu já me sinto tão fraco,
Penso que virei jumento.
O lobo tudo escutava,
Com interesse e cortesia,
Disse-lhe: - Se fosse simples,
Eu logo resolveria,
Sinto muito, mas o teu caso
É mesmo de cirurgia.
Vamos logo resolver,
Este problema danado,
Eu que tenho muita prática,
Pelos deuses sou guiado,
Em menos de uma hora,
Tu já estarás curado!
O cavalo, um fingidor,
Concordou tão de repente,
Queria pregar uma peça
Naquele lobo insolente,
Salafrário e mentiroso,
Com pinta de inteligente.
Disse-lhe: - Se é assim,
Vou logo ficar de costas,
Para que me examines
E encontres as respostas,
Só precisas me dizer,
A posição que tu gostas.
O lobo todo animado,
Saltitante e sorridente
Aproximou-se do cavalo,
Faminto e displicente,
Levou um coice tão grande,
Que até quebrou os dentes.
Acabou-se a esperteza
Daquele lobo mesquinho,
Virou uma enorme bola
E se danou pelo caminho,
Porém, enquanto fugia,
Ele pensava baixinho:
- Bem feito! Quem me mandou,
Dar uma de espertalhão,
Querer ser o que eu não sou,
Acabou em confusão.
Foi bom porque aprendi,
De uma vez esta lição.
MORAL DA HISTÓRIA
Portanto não é demais,
Deixar aqui um recado:
Não tente ser tão esperto,
Nem mal intencionado,
Pode não dar muito certo
E você sair machucado!
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Este cordel é baseado na fábula de Jean de La Fontaine (Château Thierry, 1621 - Paris, 1695) poeta e fabulista francês, considerado o pai da fábula moderna, que com uma linguagem simples e contando histórias de animais, todas com um fundo moral, conquistou os leitores do mundo inteiro.