O porão.
Certo dia resolvi
A construí um porão
Pra depositar sujeiras
Sem nenhuma servidão
Um porão muito bem feito
Bem lá no fundo do peito
Embaixo do coração
E comecei construir
Esse espaço confinado
Para tudo que não serve
Ali ser depositado
Depois dele construído
E bem cheinho, entupido
Me senti aliviado.
Pois guardei bem lá no fundo
Coisa que não me servia
Que não quero mas usar
Nunca mais no dia a dia
Raiva ódio e rancor
Falta de Deus mau humor
Arquivei na cela fria
Nesse espaço confinado
Eu joguei meu sofrimento
Toda aflição vivida
Na calçada no relento
Também toda solidão
E a raiva do irmão
Que sentia no momento
Num cantinho apertado
Eu deixei meu mau humor
Minha falta de afeto
Minha falta de amor
Numa gaveta blindada
Joguei toda coisa errada
Que só me prejudicou
Tinha uma prateleira
Numa parede da cela
Construí grande tapume
Para nunca mais ver ela
Pois ali tava guardado
Tudo que fiz de errado
Todo tipo de mazela
Fiz uma caixa pequena
Vedei toda com betume
Joguei a desconfiança
Que eu tinha por costume
Para não deixar herança
E cravado numa lança
Tranquei todo meu ciúme
Depois fui amontoando
O que me era comum
Falar mal do meu irmão
Meu vício de beber rum
Falta de educação
Reclamar sem ter razão
E maltratar qualquer um
Nesse grande amontoado
Joguei erro de infância
Tudo que fiz de errado
Sem conhecer tolerância
Toda praga que roguei
Todo mal que pratiquei
No meu tempo de criança
O porão foi se enchendo
E foi ficando pesado
Meu coração apertando
Porém não ficou parado
Foi empurrando os entulhos
Já livrado do orgulho
Mesmo assim preocupado
E batendo muito forte
Que de longe se ouvia
Batia forte de noite
Batia forte de dia
Foi empurrando o orgulho
Então sentiu um barulho
O meu porão explodia
Tudo que tava lá dentro
Foi cair no intestino
Foi saindo comprimido
Por um corredor bem fino
E foi saindo apertado
Num lugar bem reservado
Pra pegar outro destino
No barulho da descarga
Vi descer todo fracasso
Que me fazia sofrer
Qual bicho preso num laço
E no barulho do vaso
Vi descer todo atraso
Livrando-me do cansaço
Levantei daquele vaso
Pensei que tava na neve
Minha perna flutuava
Minha cabeça bem leve
E sentindo me criança
Deus me deu uma balança
E falou assim: se pese
Quando subi na balança
Eu fiquei muito feliz
Perdi mais de trinta quilos
Peso que eu nunca quis
E muito me alegrava
Minha saúde voltava
Igual um risco de giz
Pois na balança real
O meu peso era sessenta
Porem a minha cabeça
Pesava mais de oitenta
Mas Deus fez minha defesa
E depois dessa limpeza
Senti pesando cinquenta
É muito justo e real
Tu pagar pelo que deve
Erro cabeça pesada
Sem erro cabeça leve
E deixo advertência
Tem peso na consciência
Quem muito pecado deve.
como uma tormenta, sobrevirá a vós aperto e angústia.
Provérbios 1:27