O CACHORRO E O CAIXOTE DE FARINHA. K K K K.

Essa vida é engraçada,

Tanta coisa acontece,

Fixo em nossa memoria,

E cada caso enobrece,

E esse causo engraçado,

Pelos antigos contado,

O que ouviu não esquece.

Existia certo tempo,

Morando num seringal,

Seu José e dona Mara,

Nordestino era o casal,

Formavam essa família,

Dois filhos e uma filha,

Eram cinco no total.

Essa tal de dona Mara,

Era gorda e bem morena,

Já com uns quarenta anos,

Foi nascida em Itarema,

Brava igual uma Jararaca,

Pra arregaçar a casaca,

Não via algum problema.

O velho era o por sua vez,

Chamava-se de seu José,

Também era Cearense,

Nascido lá em Quixeré,

E seu bigode indecente,

Feroz igual à serpente,

E nunca arredava o pé.

Os três filhos do casal,

Ainda eram solteiros,

Jerônimo o mais velho,

E Moacir o derradeiro,

A mocinha da família,

Tinha por nome Cecilia,

E dos pais o pesadelo.

No local onde moravam,

Era certo entroncamento,

E todos que ali passava,

Precisavam de aposento,

Assim aquele velho casal,

Naquele dito seringal,

Completava os proventos.

Também passava por ali,

Os viajantes que vendiam,

Com suas tropas de burro,

Mostrando suas iguarias,

Sendo ponto de passagem,

Alguns nessa estalagem,

Ficavam ali muitos dias.

Na casa do velho casal,

Tinha pequena dispensa,

E o local onde guardava,

Com toda sua presciência,

As poucas mercadorias,

Servidas em seu dia a dia,

Por toda sua querência.

Acontece que a dispensa,

Ficava dentro do quarto,

Daquele casal nordestino,

Pra não ocupar espaço,

Em algumas prateleiras,

E a farinha de macaxeira,

Num caixote lá em baixo.

A casa era de palafitas,

Tendo o seu assoalho,

De ripas de paxiúbas,

Por atenuante trabalho,

Muito alto na verdade,

Pra não pegar umidade,

Capricharam no entalho.

Na casa também vivia,

Um velho cão rabugento,

A ninguém dava sossego,

O bicho era um tormento,

Tinha por nome tainha,

Doido pra comer farinha,

No caixote lá de dentro.

O cachorro toda noite,

Entrava bem de mansinho,

Ia para o fundo do quarto,

E lá ficava bem quietinho,

Ficava deitado por ali,

Esperando irem dormir,

Pra comer um bocadinho.

Ser colocado pra correr,

Já estava acostumado,

Vivia com o pelo grosso,

De tanto ser espancado,

Por tanto já nem ligava,

Quando o chicote falava,

Corria sempre calado.

Certo dia ali chegando,

Um camelô bem vistoso,

Por nome de Fortunato,

Digamos que era jeitoso,

Com um papo refinado,

Ficando ali hospedado,

Todo faceiro e garboso.

Tão logo avistou Cecília,

Por ela se interessou,

Deu-lhe umas piscadelas,

E a tal mocinha gostou,

Cruzaram-se os olhares,

Mas apesar dos pesares,

O namoro se confirmou.

A mocinha era inocente,

Não tinha experiência,

E o vendedor escolado,

Já maduro de vivencia,

A mocinha conquistou,

E por ele se apaixonou,

Sem fugir as aparências.

O pai nem desconfiando,

Das intenções do sujeito,

Tentou atravancar o caso,

E vendo não ter mais jeito,

Pois para a dita mocinha,

Que estava gamadinha,

Ele era o amor perfeito.

Além de ser bem vistoso,

O cabra era despachado,

E pela formosa donzela,

Estava mais que gamado,

Portanto não tinha medo,

Pois dizia sem segredos,

Não sou cabra assustado.

Porem a bronca do velho,

Era com o velho cachorro,

Que não lhe dava sossego,

Mesmo ganhando esporro,

Pois quando ali cochilava,

O tal cachorro aproveitava,

Comendo farinha a gosto.

A casa tinha uma porta,

Sem nenhuma repartição,

Um ambiente perfeito,

Pros aprontas desse cão,

Que estava acostumado,

A ser por ele espancado,

Com chicote e cinturão.

Decidido estava o velho,

Acabar com a anarquia,

Daquele velho cachorro,

Por certo ele não sabia,

Que o tal de marreteiro,

Tinha um plano certeiro,

Pra dormir com sua filha.

Só que a cama da moça,

Ficava bem no fundão,

Daquele quarto escuro,

Sob a luz de um lampião,

Quando tudo se acalmou,

A moça as luzes apagou,

Aumentando a escuridão.

Disse o velho para velha,

Estenda aqui seu colchão,

Debaixo da minha rede,

Mas preste bem atenção,

Hoje acabo com o estorvo,

E arrebento esse cachorro,

Pra deixar de ser ladrão.

O velho armou sua rede,

Logo na porta do quarto,

A velha de iguais modos,

O seu colchão pôs embaixo,

Prontos para não deixar,

Quem quisesse ali passar,

Dava-se mal no pedaço.

O mascate que já sabia,

Da grande badalação,

Que cercava a família,

Do tal cachorro ladrão,

Esperou todos se deitar,

Pra devagarinho passar,

Sem fazer proclamação.

Chegou à porta do quarto,

Coberto por uma cortina,

Foi pelas pontas dos pés,

Como madame granfina,

Mas teve que se agachar,

Pra poder tentar passar,

Rumo à cama da menina.

Porem não imaginava,

O velho está acordado,

Pronto a dar uma surra,

Naquele cachorro safado,

Com um chicote na mão,

Só esperando esse tal cão,

Vim comer o seu bocado.

E assim aquele mascate,

Sem saber, o que passava,

Tentou passar pela rede,

Mas no velho esbarrava,

Tentou erguer co’ a mão,

Mas esbarrou no colchão,

Da velha que ressonava.

Deixe está que o velho,

Estava só esperando,

Pra soltar-lhe o chicote,

Sua mão estava coçando,

Fingindo está dormindo,

Viu aquele vulto vindo,

Foi o braço levantando.

O cabra estava afoito,

Pra abraçar a donzela,

Sentia até o seu cheiro,

Como a flor mais bela,

Naquele quarto escuro,

Pensava que seu futuro,

Era se deitar com ela.

Ai forçou a passagem,

Mas só sentiu a lapada,

Do chicote do velhote,

Por sobre sua lombada,

Que depressa recuou,

Mas o estrago ali ficou,

No impacto da pancada.

Com a chibatada forte,

O cabra saiu correndo,

Abaixado como estava,

E o espinhaço ardendo,

As costas encalombada,

E pensando na roubada,

Que estava se metendo.

O velho que imaginava,

Ser o cachorro ladrão,

Que ia entrar no quarto,

Naquela dita ocasião,

Com a grande chibatada,

Saiu logo em disparada,

Na grande escuridão.

Nessa hora enfurecido,

O velhote esbravejou,

Esse cachorro infeliz,

De tanto que se viciou,

Acostumou levar peia,

Estava com a boca cheia,

Que nem ao menos gritou.

Deixe está que o mascate,

Estava de couro ardendo,

Da chibatada do velho,

Que não estava sabendo,

Pois aquela sua lambada,

Acertou foi o camarada,

Que estava se maldizendo.

A moça ouviu a lambada,

Apesar de não está vendo,

Porem não abriu a boca,

Ouvindo o cipó comendo,

Naquela grande agonia,

Mas infelizmente sabia,

O que tava acontecendo.

No outro dia bem cedo,

O mascate foi embora,

E esse caso se espalhou,

A correr o mundo a fora,

Por que tomou a lapada,

Acredito meu camarada,

Que não sabe até agora.

Para ele a tal lapada,

Foi por seu atrevimento,

Pensando que o tal velho,

Conhecia seus intentos,

Por tanto não rezingou,

E muito menos gritou,

A pesar de ser marrento.

Da mesma forma o velho,

Morreu sem desconfiar,

Que a chicotada que deu,

Para o cachorro espantar,

Com toda força do braço,

Que despelou o espinhaço,

Do mascate sem pensar.

Cosme B Araújo.

29/01/2014.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 29/01/2014
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