PASSEATA

De repente, brotaram nas ruas

Desceram prédios inteiros

Gerentes, secretárias, porteiros

Vieram santas e quase nuas

Covarde sentiu-se valente

Miss disputou com o sem dente

Quem iria ficar mais à frente

Fizeram espontânea aliança

Seguiram de braços dados

Patrões e desempregados

Soltando grito entalado

Acordando a vizinhança

De gravata e esfarrapado

Era o povo mandando recado

Fim da fila nunca termina

Na passagem de cada esquina

Dezenas, centenas, milhão

Da Paulista a Consolação

Sul, Norte, Nordeste, Minas

Santos, Piracicaba, Campinas

Grande centro, longínquo grotão

Cerveja esquecida nos bares

Solitária a novela nos lares

O cinema parou a sessão

O luar acendeu seu clarão

Sem temer notas erradas

Vozes quase sempre caladas

Harmonizaram uníssono refrão

Pedidos de melhor condução

Amenizar o diário calvário

Poderem chegar no horário

Não perderem seu mínimo salário

Ouvi sobre segurança e habitação

Eu me lembrei do que pude

Gritei mais educação e saúde

Nó apertando o coração

Filho ouviu no sorriso do pai

Você vai ver! Agora, vai...

É só esperar a eleição

Mas, se aberta a apuração

Na realidade nada mudar?

Ficar mesmo cheiro no ar?

Vai ser uma tapa na cara

Tanta gente gritando na praça

Continuar a mesma desgraça

Restará recolocar a mordaça

Pouco adiantará ficar uma vara

Dizer que está de saco cheio

Ou então que o trem tá feio

Seguirão estrelas e coronéis

Sem alarde, qualquer tropel

No pastoreio de seus fiéis

E quem sonhou ver novo céu

Voltar à realidade da televisão

Caminhar olhando pro chão

Mais um silente na multidão

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 18/01/2014
Código do texto: T4654602
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