BATE PAPO DE MACACOS
I
Visitei o paraíso,
Chamado Jardim de Alá,
Que apenas é um segmento
Do nosso lado de cá,
Mas só para contrariar,
Em versos eu vou narrar
O que vislumbrei por lá.
II
Mundo exótico em cores,
Camelos vagando ao léu,
Crianças, jovens e velhos,
Belas mulheres com véu
E, de olhares penetrantes,
Homens sérios de turbantes,
Servindo-lhes de chapéu.
III
O contraste era evidente
Numa terra como esta,
Entre comércios e danças
E o sinal da fé na testa,
Chamou-me atenção, por certo,
Que no lugar do deserto
Houvesse uma floresta.
IV
Diante da verde paisagem,
Eu não pude me conter,
A voz e os feitos humanos
Deixei de ouvir e de ver;
Entrei na mata cerrada,
Fui saber da bicharada
Se algo tinha a me dizer.
V
À sombra de uma árvore,
Sobre seus rabos sentados,
Dois macacos conversavam
Seriamente preocupados;
Um para o outro dizia
Que ouvira certo dia
Uns boatos divulgados.
VI
Para as questões filosóficas
Que o homem formulou:
Quem sou, de onde eu vim
E para onde eu vou,
Pesquisando os elementos,
Com muitos experimentos,
A resposta encontrou.
VII
A ciência já ensina,
Como fato comprovado,
Que o homem era um símio
Em seu longínquo passado,
Aos poucos evoluiu
E por fim se constituiu
Num bugio aprimorado.
VIII
Dizem até que os humanos
Se orgulham demais disto,
Descender de nossa raça
É muito bom pelo visto;
Quer o homem já sem fé
Ser primo de chimpanzé
Em vez de irmão de Cristo.
IX
Pensam descender de nós,
Mas se acham superiores
Porque inventaram foguetes,
Robôs e computadores;
São mesmo esquizofrênicos,
Já abusam dos transgênicos,
Remodelando até as flores.
X
Descobriram os segredos
De plantas e borboletas,
Pisaram até na lua,
Investigaram cometas,
E pretendem muito mais,
Nos espaços siderais
Conquistar outros planetas.
XI
Mas apesar disso tudo
Decaem e vão ao fundo,
Não conseguiram ainda,
Com este estudo profundo,
Desintegrando a matéria,
Debelar fome e miséria
Que assolam nosso mundo.
XII
A baixa moral dos homens
Rebaixada continua,
Nenhum macaco, porém,
Abandona esposa sua,
Honramos nossas famílias,
Não temos irmãs e filhas
Prostituindo-se na rua.
XIII
Num agito deslumbrante,
O feminismo se alastra,
A mulher não quer ser mãe
E recusa a ser madrasta;
Disse uma com humor,
Que se necessário for,
O seu marido ela castra.
XIV
Vamos reagir unidos,
Sob a proteção de Ogum,
Pois não é bom que entre nós
Haja parentesco algum;
Será mesmo uma desgraça
Se com essa sub-raça
Tivermos algo em comum.
XV
Ouvindo esse bate-papo,
Eu pressenti um perigo,
Porquanto o ser racional
Do irracional é inimigo;
Voltei logo à realidade
Deslumbrante da cidade
Muito intrigado comigo.
XVI
Ao contemplar o progresso,
Com pesar no coração,
Duas lágrimas caíram
Dos meus olhos para o chão;
Revendo meus pontos fracos,
Da conversa dos macacos
Tirei minha conclusão.
XVII
Há na dança descompasso
Entre o samba e o tango,
Os homens são uns gorilas,
Mas nem por isso eu me zango,
Se sou, você também é,
Um de nós é chimpanzé
E o outro é orangotango.
XVIII
Mulheres, porém, são anjos,
Guardiãs de nossa aldeia,
Somente elas são gentes,
Na água, terra ou areia;
Mulher! Eu não sou tatu,
Mas se sou macaco nu,
Você é uma sereia.
XIX
Vivemos na confusão,
Sem saber o que nem qual,
Ser gente ou bicho, que importa?
Não é isso nenhum mal,
Animais somos também,
Se eles não são ninguém,
Quem somos nós, afinal?
XX
Se vivêssemos em paz,
Tudo seria beleza,
Mundo mais belo do mundo,
Teríamos com certeza,
Mas oxalá não prossiga
Por mais tempo essa briga
Entre nós e a Natureza.
XXI
Retornando ao início,
Para findar este caso,
Deixo em paz os animais
Que evoluem sem atraso,
Grato a Deus por sua clemência
E a vocês pela paciência
Ao lerem este parnaso.
XXII
Muito empolgado eu estava
Com a glória do Islão,
Que fiquei em devaneio,
Tendo nas mãos o Alcorão;
Pensei em me converter,
Tão somente para ser
Um felizardo sultão.
XXIII
Pelas barbas do profeta...
Ouvi uma voz, com surpresa:
"A você dou as mulheres
Com toda esta riqueza,
E aos demais o fogo eterno,
Onde o mármore do inferno
Os aguarda com certeza".
XXIV
Bem! Sei que falei demais
E o caso encerro por ora,
Não tem fim porém jamais
Esta questão de outrora;
Digo, bradando meus ais:
Importa que eu seja agora,
Testemunha que adora
O bom Deus de nossos pais.
I
Visitei o paraíso,
Chamado Jardim de Alá,
Que apenas é um segmento
Do nosso lado de cá,
Mas só para contrariar,
Em versos eu vou narrar
O que vislumbrei por lá.
II
Mundo exótico em cores,
Camelos vagando ao léu,
Crianças, jovens e velhos,
Belas mulheres com véu
E, de olhares penetrantes,
Homens sérios de turbantes,
Servindo-lhes de chapéu.
III
O contraste era evidente
Numa terra como esta,
Entre comércios e danças
E o sinal da fé na testa,
Chamou-me atenção, por certo,
Que no lugar do deserto
Houvesse uma floresta.
IV
Diante da verde paisagem,
Eu não pude me conter,
A voz e os feitos humanos
Deixei de ouvir e de ver;
Entrei na mata cerrada,
Fui saber da bicharada
Se algo tinha a me dizer.
V
À sombra de uma árvore,
Sobre seus rabos sentados,
Dois macacos conversavam
Seriamente preocupados;
Um para o outro dizia
Que ouvira certo dia
Uns boatos divulgados.
VI
Para as questões filosóficas
Que o homem formulou:
Quem sou, de onde eu vim
E para onde eu vou,
Pesquisando os elementos,
Com muitos experimentos,
A resposta encontrou.
VII
A ciência já ensina,
Como fato comprovado,
Que o homem era um símio
Em seu longínquo passado,
Aos poucos evoluiu
E por fim se constituiu
Num bugio aprimorado.
VIII
Dizem até que os humanos
Se orgulham demais disto,
Descender de nossa raça
É muito bom pelo visto;
Quer o homem já sem fé
Ser primo de chimpanzé
Em vez de irmão de Cristo.
IX
Pensam descender de nós,
Mas se acham superiores
Porque inventaram foguetes,
Robôs e computadores;
São mesmo esquizofrênicos,
Já abusam dos transgênicos,
Remodelando até as flores.
X
Descobriram os segredos
De plantas e borboletas,
Pisaram até na lua,
Investigaram cometas,
E pretendem muito mais,
Nos espaços siderais
Conquistar outros planetas.
XI
Mas apesar disso tudo
Decaem e vão ao fundo,
Não conseguiram ainda,
Com este estudo profundo,
Desintegrando a matéria,
Debelar fome e miséria
Que assolam nosso mundo.
XII
A baixa moral dos homens
Rebaixada continua,
Nenhum macaco, porém,
Abandona esposa sua,
Honramos nossas famílias,
Não temos irmãs e filhas
Prostituindo-se na rua.
XIII
Num agito deslumbrante,
O feminismo se alastra,
A mulher não quer ser mãe
E recusa a ser madrasta;
Disse uma com humor,
Que se necessário for,
O seu marido ela castra.
XIV
Vamos reagir unidos,
Sob a proteção de Ogum,
Pois não é bom que entre nós
Haja parentesco algum;
Será mesmo uma desgraça
Se com essa sub-raça
Tivermos algo em comum.
XV
Ouvindo esse bate-papo,
Eu pressenti um perigo,
Porquanto o ser racional
Do irracional é inimigo;
Voltei logo à realidade
Deslumbrante da cidade
Muito intrigado comigo.
XVI
Ao contemplar o progresso,
Com pesar no coração,
Duas lágrimas caíram
Dos meus olhos para o chão;
Revendo meus pontos fracos,
Da conversa dos macacos
Tirei minha conclusão.
XVII
Há na dança descompasso
Entre o samba e o tango,
Os homens são uns gorilas,
Mas nem por isso eu me zango,
Se sou, você também é,
Um de nós é chimpanzé
E o outro é orangotango.
XVIII
Mulheres, porém, são anjos,
Guardiãs de nossa aldeia,
Somente elas são gentes,
Na água, terra ou areia;
Mulher! Eu não sou tatu,
Mas se sou macaco nu,
Você é uma sereia.
XIX
Vivemos na confusão,
Sem saber o que nem qual,
Ser gente ou bicho, que importa?
Não é isso nenhum mal,
Animais somos também,
Se eles não são ninguém,
Quem somos nós, afinal?
XX
Se vivêssemos em paz,
Tudo seria beleza,
Mundo mais belo do mundo,
Teríamos com certeza,
Mas oxalá não prossiga
Por mais tempo essa briga
Entre nós e a Natureza.
XXI
Retornando ao início,
Para findar este caso,
Deixo em paz os animais
Que evoluem sem atraso,
Grato a Deus por sua clemência
E a vocês pela paciência
Ao lerem este parnaso.
XXII
Muito empolgado eu estava
Com a glória do Islão,
Que fiquei em devaneio,
Tendo nas mãos o Alcorão;
Pensei em me converter,
Tão somente para ser
Um felizardo sultão.
XXIII
Pelas barbas do profeta...
Ouvi uma voz, com surpresa:
"A você dou as mulheres
Com toda esta riqueza,
E aos demais o fogo eterno,
Onde o mármore do inferno
Os aguarda com certeza".
XXIV
Bem! Sei que falei demais
E o caso encerro por ora,
Não tem fim porém jamais
Esta questão de outrora;
Digo, bradando meus ais:
Importa que eu seja agora,
Testemunha que adora
O bom Deus de nossos pais.