GALOPE JUSTICEIRO
Acordei predisposto a cuspir bala
Num milhar de desgente que não presta
Vou fazer dessa guerra grande festa
Para a qual não precisa luxo ou gala
Basta ter coração que não se abala
Com carranca, desmandos, ameaça
Quem quiser pode entrar nessa arruaça
Que será muito bem considerado
Desque esteja engajado do meu lado
Pode vir colocar a mão na massa.
Trago em mim basta farta munição
Tanta até desconheço paralelo
Começando por este parabelo
Pertencente em passado a Lampião
Seguem três carabinas e um canhão
Catapulta comprada por um dólar
Dinamite, bastão, flecha, pistola
Mais arpão, baladeira, canivete
Pé-de-cabra, facão, pedra, gilete
Felizmente couberam na sacola.
Atrepado em Corisco Aligeirado
Companheiro Jumento de viagem
Arrenego foguete, carruagem
Avião, su’marino, trem de gado
Por nenhum desses troco o baio alado
À procura do Mal vamos os dois
Capa, espada, de máscara, albornoz
Perpassando por báratros, abismos
Afrontando borrascas, cataclismos
Vamos loucos no trote dos heróis.
Senhorões de gravata e colarinho
Figurões, patrões cheios de etiquetas
Salafrários de terno, proxenetas
Se quiserem viver mais um tiquinho
Saiam todos depressa do caminho
Ou persistam a fim de ver a missa
E tentarem lavar toda a podriça
Mas nem banho sagrado de água-benta
Não lhes salva a carcaça fedorenta
Acordei desejoso de justiça.
(Do livro MEMORIAL BÁRBARA DE ALENCAR & OUTROS POEMAS)