O pastor e o cachaceiro. Parte I -Autores: Damião Metamorfose e Eduardo Viana.

O pastor e o cachaceiro. Autores: Damião Metamorfose e Eduardo Viana.

*

D.M

Nas andanças que eu já fiz

Por este mundão afora.

Vi coisa que não se diz

Porque se disser piora.

Porém tudo tem desconto,

Um ponto e um contra ponto

E nesse conto e não conto

Uma eu vou contar agora!

*

EV

Recordo daquela hora,

Lembro tim, tim por tim,tim.

Um bêbado fazendo escora

Na porta dum botequim.

Um pastor a se afligir

Querendo contribuir

Começaram a discutir,

Foi mais ou menos assim.

*

D.M

Me sirva conhaque ou gim,

Uísque, vodca ou cachaça...

Que hoje eu tò com o “coisa ruim”

E a tremedeira não passa.

-E o distinto senhor

Peça ai seja o que for...

Se aprochegue, por favor,

Beba que eu pago, é de graça!

*

EV

Eu não bebo essa desgraça,

Nem cachaça nem cerveja.

Eu prego a bíblia na praça,

Na calçada e na Igreja.

A minha religião

Eu prego sem distinção

Para ter a salvação

Numa hora benfazeja.

*

D

Pois eu bebo na bandeja,

No copo, taça e na pia.

Bebo a hora que ela esteja

Quente, gelada ou fria.

Bebo com pobre e com chique,

Me batizei no alambique

E para aguentar o pique

Bebo de noite e de dia!

*

E

Não me faça apologia,

Examine a consciência.

Leia a Bíblia todo dia,

Abandone a indecência.

Salomão nos aconselha

E puxa na nossa orelha

Sou pastor, tu és ovelha,

Aumente sua existência.

*

D

Eu só bebo com decência

E nunca bebo fiado.

Nunca perco a paciência

Se o garçom vem atrasado.

Pago para quem chegar,

Nunca fui de regular...

Se bebo e posso ajudar

Porque o que faço é pecado?

*

E

Quem bebe é sentenciado

Viver na condenação.

Tudo que faz dar errado

Envergonhando a nação.

É um descrente sem fé

Como disse seu José

- Quer ver cachaça o que é

Não beba e preste atenção.

*

D

Mas eu bebo por paixão,

Bebo pra esquecer a dor.

Bebo por receber não

De quem dou sim por amor.

Bebo por ser desprezado,

Por viver em tal estado

Eu fico anestesiado,

Isso é pecado pastor?

*

E

Quem bebe perde o valor,

Dar serviço a delegado.

É pecado sim senhor

Ficar desmoralizado.

Se sofreu decepção

A bíblia é a solução,

Pra bebida diga: Não!

Não ter moral é pecado.

*

D

Cristo deixou seu legado

Na bíblia ou no pergaminho...

Seu milagre tão falado

Foi transformar água em vinho.

E foi sua mãe Maria

Que disse: faça! é seu dia...

Se o próprio Jesus bebia

Porque beber é mesquinho?

*

E

Naquele tempo, amiguinho...

Vinho era suco de uva.

Não vá por esse caminho,

Não produza uma viúva.

Naquele tempo caduco

Jesus não era maluco,

O que bebeu foi um suco

Para passar uma chuva.

*

D

Mulher nenhuma enviúva

Sem comigo ser casada.

Porque sou igual saúva

Qualquer buraco é morada.

Pelo jeito que estou vendo

Vou continuar bebendo.

-O que o senhor ta dizendo:

É que a Bíblia é uma charada?

*

E

Sua alma desviada

Faz de você um descrente,

Quem bebe só diz burrada

E se torna um insolente.

Para tudo tem limite

No livro santo acredite

Deixe a cachaça e medite

Venha pro lado da gente!

*

D

Fale-me do seu presente,

Mas também fale o passado.

Diga se sempre foi crente

Ou já viveu em pecado.

Se for correto responda,

Se não foi deixe de onda

Rasgue essa bíblia e se esconda

E venha pro nosso lado!

*

E

Já andei do lado errado

Sem fé, ateu e herege.

Da doutrina renegado,

Fazendo arruaça em frege.

Porém Jesus me chamou

Todo pecado apagou

E lhe convidando estou

Pra ver se Deus lhe protege.

*

D

A doutrina que lhe rege

É santa e sem falsidade?

Pra o povo que não te elege

Tu praticas caridade?

Pois nas igrejas que eu ando

No diabo é que estão falando.

E o dinheiro está mandando,

Com a empáfia e a vaidade...

*

E

A palavra da verdade

Na Igreja se escuta.

Dinheiro com lealdade

Para o bem não se refuta.

A caridade afinal

Do lado espiritual,

Tem da Igreja o aval

De maneira resoluta.

*

D

É verdade absoluta

O que eu vou lhes dizer.

Só Deus sabe a minha luta

Para mudar o meu ser.

Mas pra não prejudicar

O alambique do lugar

Acabo vindo pro bar

E meto a pau a beber!

*

E

Não tem no seu parecer

Nada que se justifique.

Cachaça lhe dar prazer

Mas nada que fortifique.

Tás feito cavalo chucro

Para alcooleiro sucro,

Bebendo para dar lucro

Ao dono do alambique.

*

D

Se tiver remédio indique

Ou uma simpatia, diga?

Porque eu bebo sem chilique

Até dar dor na barriga.

E se eu deixar de beber

Pastor, como é que vai ser,

Minha mulher vai dizer:

Hoje não vai ter nem briga!

*

E

A bebida é quem obriga

Tornar o homem ridículo.

É passaporte de intriga

E do conflito o veículo.

Igreja prega a concórdia

Então saia da discórdia

E pregue a misericórdia

Com a bíblia no currículo.

*

D

Não preciso de um versículo

Para me deixar contente.

Sou mais bem visto em meu circulo,

Com cerveja e aguardente.

Se eu parar de beber

Meus amigos vão sofrer.

Então bota pra descer

Outra rodada pra gente!

*

E

Sua fé tá decadente,

Esse caminho é estranho.

Uma ovelha divergente

Bota a perder o rebanho.

Não sofra nem sinta íngua,

Bote a oração na língua

Para não morrer a míngua

Perdido no campo estranho.

*

D

É verdade eu não me acanho,

Mas não paro de dizer:

Que bebendo eu me assanho

E me sinto com poder.

Bebo também pra ajudar

Quem não tem com que pagar

Uma dose pra tomar,

Sendo assim... Vamos beber!

*

E

Eu não quero cometer

Uma ação contra a moral,

Nem quero me perverter

A depravação brutal.

Nosso talhe não se javra,

No templo o bem é de lavra,

Venha pregar a palavra,

Seja um nosso serviçal.

*

D

Para ser mais cordial

E encurtar a peleja.

Parece-me ser legal

Ser membro na sua igreja.

Mas para ouvir seu clamor

Eu proponho ao senhor.

Por um dia eu sou pastor

E o senhor bebe cerveja!

*

E

Amigo o senhor reveja

E reveja sem atraso,

Beber um gole que seja

Pode levar ao ocaso.

Pensando no trivial,

Não quero ser radical,

Como quero ser leal,

Posso pensar no seu caso.

*

D

Então estipule um prazo

E a hora que seja boa.

Longe de algum paparazzo,

Irmão da igreja ou patroa

Ou um curioso que seja,

Que eu cuido da sua igreja

E o senhor bebe cerveja...

Por um dia Deus perdoa!

*

E

Não diga palavra à toa

Nem me venha com novena.

Seu pensamento destoa

E minha alma envenena.

Você querer ir ao templo

É coisa que eu contemplo,

Mas exigir um exemplo

Faz eu de você ter pena.

*

D

Não fuja assim da arena

O alcoolismo é doença.

Uma só não envenena

Nem diminui sua crença.

Porque vens me condenar?

Se não queres me ajudar...

Deixo a proposta no ar

Pense pra ver se compensa!

*

E

Então vou pedir licença

Diante dessa proposta.

Vou aceitar a sentença

Dou um sim como resposta.

Posso beber um licor

Mas você será pastor,

Seja o que possível for

Quero ganhar essa aposta.

*

Breve a segunda parte...

Damião Metamorfose e Eduardo Viana
Enviado por Damião Metamorfose em 17/12/2013
Reeditado em 20/12/2013
Código do texto: T4615982
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