A SAGA DE UM CABOCLO DESMANTELADO
O cabra gastou dinheiro
Com jogo, cana e mulher,
Passou pé no espinheiro
Dele diga o que quiser
Pois tudo que se disser
Não vai mudar sua ação
Nem a base de oração
Vai desfazer o seu jeito
O que tá feito, tá feito
Não cabe reclamação
Derrubou sua mansão
Pra fazer academia
Teve precipitação
Sem ter carta de alforria
Pagou o que não devia
Descumpriu a tradição
Surpreendeu toda nação
Fazendo assim desse jeito
O que tá feito, tá feito
Não cabe reclamação
No sábado farreou
No domingo fez a festa
Na segunda trabalhou
Na terça franziu a testa
Oscilou com o que presta
Bombeou seu coração
Com valsa e samba canção
Mas disse abrindo o seu peito
O que tá feito, tá feito
Não cabe reclamação
Montou no cavalo brabo
Levou queda pra valer
Torou da vassoura o cabo
Somente pra não varrer
Deixou a tinta escorrer
No piso da construção
Queimou a mão no tição
Mentiu mais do que prefeito
O que tá feito, tá feito
Não cabe reclamação
Comeu tudo apimentado
Teve tremenda coceira
Espalhou pra todo lado
Sentiu por dentro a fogueira
Foi o rei da brincadeira
Apanhou por danação
Banhou-se só de calção
Engasgou-se com confeito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação
Fez da corrida um pinote
Espantou cachorro a grito
Brincou de gato no pote
Foi parado pelo atrito
Na Lei de Chico de Brito
Aprendeu sua lição
Meteu-se na confusão
Por causa do preconceito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Chegou a estar na cadeia
Por causa do som do carro
Fugiu de cabra de peia
Porque pediu um cigarro
Inda hoje tem pigarro
Devido à poluição
Foi à conciliação
Ver um juiz de direito
O que tá feito, tá feito
Não cabe reclamação
Namorou Zefa e Zefinha
As duas de uma vez só
Lá na terra ribeirinha
Caminhou feito socó
Tirou a poeira e o pó
Durante a tal relação
Escapou da capação
Por tourear um sujeito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Pegou sarampo e bexiga
Já sofreu de erisipela
Disputou jogo na liga
No time Quebra Canela
Comeu na própria panela
Estragou a dentição
Teve na bela feição
Contradição no conceito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Já pulou muito cercado
Já dispôs chifre de adorno
Mas de tanto ter chifrado
Terminou virando corno
Nunca pôs a mão no forno
Nem viu água em ebulição
Por causa da locução
Fez comício em beco estreito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Frequentou lugar fuleiro
De lá saiu na vassoura
Soltou-se no tabuleiro
Deixou perder a lavoura
Atracou-se com uma loura
Tendo por ela afeição
Viu com admiração
A coisa mudar no leito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Deu uma de enxerido
Da mulher levou o troco
Achou dinheiro escondido
Fez-se santo do pau oco
Menino, comeu reboco
Na sua alimentação
Foi na feira uma atração
Trapaceando perfeito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
Pecou na Semana Santa
Roubou galo e galinha
Deu uma de sacripanta
Fez a maior ladainha
Volteou toda pracinha
Com piada e gozação
Abusou da presunção
Por isso não foi aceito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação!
Viu seu time rebaixado
Soltou fogos mesmo assim
Comeu o pão amassado
Feito o que comeu Caim
Refez tintim por tintim
Sem ter comiseração
Até em hora de aflição
Deixou de fazer seu pleito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.
De boca fez muito mal
Mas agindo foi pior
Maltratou muito animal
Isso bem disse de cor
Sempre quis ser o maior
Morador da região
Fez da fala a produção
só pensando em ser eleito
o que tá feito, tá feito,
não cabe reclamação.
Por tudo aqui já falado
Neste poema corrido
Devemos ter perdoado
O nosso irmão iludido
Que sem ver o tempo ido
Foi precisar de atenção
Pra sua orientação
Sem intentar ser perfeito
O que tá feito, tá feito,
Não cabe reclamação.