“MINHA INSPIRAÇÃO”

De onde menos se espera

Eu faço poesia

De quem é hoje em dia

De quem vem e de quem era

Do arrojo de uma fera

Pelo sim e pelo não

As garras do leão

Dilacerando uma presa

O pão que tem na mesa

É a minha inspiração.

A força da ventania

A batida do martelo

O gorjear tão belo

No cantar da cotovia

A tristeza, a alegria

A Foice, faca e facão

O inverno e o verão

Outono e primavera

A profundeza da cratera

É a minha inspiração.

Um cavalo baixeiro

Um aboiador de gado

Um açude inundado

Um bode pai de chiqueiro

As meninas no terreiro

Fazendo adivinhação

O que é o que é? Sei não

Um mandacaru florido

E um cagão inturido

É a minha inspiração.

A calmaria, um sururu

O magoar da ferida

Uma estrada comprida

O caroço do angu

Um valentão feito tu

Estendido num caixão

O estampido do trovão

O palmo que a mão mede

O que cheira e o que fede

É a minha inspiração.

E um menino que chora

Com medo da quimera

A mãe que se desespera

Quando o filho vai embora

Levado pela senhora

Que tem a foice na mão

O aperto do cinturão

Numa barriga com fome

O pão que o Diabo come

É a minha inspiração.

As festas do mês de junho

Tocador puxando o fole

Um bate coxa, um bole-bole

E a fraqueza do punho

O falso testemunho

Na sala de acusação

Uma grande reca de cão

Atrás de uma cadela

Namorar uma donzela

É a minha inspiração.

Uma porção de fermento

Que faz levedar o pão

Uma bolha de sabão

Voando leve ao vento

Os astros do firmamento

Que soltos todos estão

Obra do Deus de Abraão

Que faz tudo com maestria

Uma vida com poesia

É a minha inspiração.

Jurandir Silva
Enviado por Jurandir Silva em 29/11/2013
Reeditado em 30/11/2013
Código do texto: T4592058
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