“MINHA INSPIRAÇÃO”
De onde menos se espera
Eu faço poesia
De quem é hoje em dia
De quem vem e de quem era
Do arrojo de uma fera
Pelo sim e pelo não
As garras do leão
Dilacerando uma presa
O pão que tem na mesa
É a minha inspiração.
A força da ventania
A batida do martelo
O gorjear tão belo
No cantar da cotovia
A tristeza, a alegria
A Foice, faca e facão
O inverno e o verão
Outono e primavera
A profundeza da cratera
É a minha inspiração.
Um cavalo baixeiro
Um aboiador de gado
Um açude inundado
Um bode pai de chiqueiro
As meninas no terreiro
Fazendo adivinhação
O que é o que é? Sei não
Um mandacaru florido
E um cagão inturido
É a minha inspiração.
A calmaria, um sururu
O magoar da ferida
Uma estrada comprida
O caroço do angu
Um valentão feito tu
Estendido num caixão
O estampido do trovão
O palmo que a mão mede
O que cheira e o que fede
É a minha inspiração.
E um menino que chora
Com medo da quimera
A mãe que se desespera
Quando o filho vai embora
Levado pela senhora
Que tem a foice na mão
O aperto do cinturão
Numa barriga com fome
O pão que o Diabo come
É a minha inspiração.
As festas do mês de junho
Tocador puxando o fole
Um bate coxa, um bole-bole
E a fraqueza do punho
O falso testemunho
Na sala de acusação
Uma grande reca de cão
Atrás de uma cadela
Namorar uma donzela
É a minha inspiração.
Uma porção de fermento
Que faz levedar o pão
Uma bolha de sabão
Voando leve ao vento
Os astros do firmamento
Que soltos todos estão
Obra do Deus de Abraão
Que faz tudo com maestria
Uma vida com poesia
É a minha inspiração.