SAGA DE UM VELHO SERTANEJO E A ENXADA.

José Feitosa da Silva

(JFeitosa)

CORDEL

Trabalhei a vida inteira,

O corpo já está cansado!

Meu estudo foi asneiro,

Hoje estou aposentado.

Não freqüentei a escola,

Porque cedo trabalhei.

Meu colégio foi a roça,

Onde muito batalhei.

Lembro com muita tristeza,

Da companheira enxada!

Que por falta da caneta,

Sempre me acompanhava.

Sabia das minhas mágoas,

Presenciava meu sofrer!

Foi ela que me ajudava,

Os alimentos trazer.

Minha vida foi marcada,

Pela prática do trabalho.

Tenho na pele encaumas,

Nas mãos os sinais dos calos.

As lembranças são sofridas!

Desde o tempo de criança.

Desgastado pela lida,

Mas no peito a esperança.

A idade hoje pesa!

A vista está cansada.

Não tenho força nas pernas.

Nem ouço bem quando falam.

Tomo remédio bem cedo,

Não posso sair de casa!

O dinheiro que recebo,

Quase todo é da farmácia.

Mais a consciência é plena,

Que fui um vencedor!

Jamais entrei em encrenca,

Só pratiquei o amor.

Meus filhos estão formados.

Todos eles tem leitura!

Não foram como eu fui criado,

Enfrentando a vida dura.

Hoje é grande a diferença!

Do presente pra o passado.

Antes tinha coerência,

Hoje é tudo complicado.

Só peço para Jesus,

Que proteja os meus filhos!

Iluminando com a luz,

Tirando deles os espinhos.

Peço para minha esposa,

Desculpas por meu fracasso!

De passar a vida toda,

Com a enxada nos braços.

Porque estou de partida,

Procurando repousar.

Nos braços de uma família,

Que me espera chegar.

Levarei aqui da terra,

Lembranças quase infindas.

Da companheira sincera,

Que me ajudou na vida.

Em forma de gratidão,

Peço aos meus familiares:

- Coloque a enxada no caixão,

Para eu seguir em paz!!!!

JFeitosa
Enviado por JFeitosa em 14/11/2013
Reeditado em 15/11/2013
Código do texto: T4570885
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