O GAROTO QUE O DESTINO
TORNOU UM HOMEM SEM SORTE


Meus estimados leitores
Deste bonito país,
Venho contar aos senhores
Um triste caso que diz
O quanto pode sofrer
Um homem — esse pobre ser,
Quando o destino o desdiz.

Pois o desdito da sorte
Pouco do que faz acerta,
Além disso, com seus atos,
Dores aos seus ele oferta.
Assim, seu pai, seu irmão,
Parentes..., em confusão,
Ele os envolve na certa.

Aqui eu peço licença
Para aos senhores contar
A história de um menino
Que não viu como escapar
Ao seu terrível destino,
Pois ainda pequenino
Cai pra não mais levantar.

A tal história inicia
De uma forma bem feliz,
A princípio parecendo
Ser tudo que seu pai quis:
Um filho — um menino são,
Os santos ouvem e dão.
E ele ao Bom Deus bendiz.

Porém nos primeiros meses
De vida aconteceria
Algo em si inusitado.
Lhes digo: — isso mudaria
O destino do garoto,
Daquele pequeno broto
Causa de tanta alegria.

Quando tinha quinze dias,
O sarampo acometeu
Sua irmã1, onde o micróbio
Do mesmo ele recebeu,
Guardando-o dentro do seio
Por uns seis meses e meio
Quando, enfim, ao mal cedeu.

Pois o sarampo, encubado,
Depois lhe acometeria
Nas mãos da avó paterna,
Que enlouquecida se via
Ao vê-lo em febre queimando,
Com fortes dores chorando,
O sarampo recolhia.

Um médico1 muito capaz
O atendeu prontamente!
Garamicina injetável
Receitou ao paciente.
Remédio maravilhoso!
Da dor da picada ao gozo
Do xixi, foi um repente.

Sofreu também de outros males,
Como a desidratação
Onde a mãe, desinformada,
Sem a devida atenção:
“Tratou-o” com a benzedeira,
Hoje vendo, foi besteira!
Quase teve convulsão.

Teve Rubéola, Papeira,
Sarampo, bicho-de-pé;
Coqueluche e alergias;
Caspa, piolho e chulé.
Porém o grande agressor
Foi o sarampo, doutor!
Nisto sim, eu boto fé!

Daí pra frente o bebê
Seguiu seu crescer em paz!
Nem mesmo uma coqueluche
Pôde lhe tirar o gás!
A rubéola o derrubou
Porém se recuperou
Bem rapidinho, aliás.

Amarrando o afirmado,
Agora eu passo a contar
Como mostrou-se o menino
Quando começou andar,
Ainda que para os pais
Não fosse nada demais
Seu jeito de se portar.

Esperto, muito danado!
De nada ele tinha medo.
Dos pais uma bicicleta
Ganhou logo muito cedo:
Aos três anos. Logo cai,
Quebra um braço. E daí vai...
Continuando o enredo.

Nesse mesmo tempo entra
Para a Escola — no Jardim,
Já de início mostrando
Pra ele ser mesmo o fim!
Chora e grita, esperneando,
À sua avó se agarrando
Aos prantos, dizendo assim:

[...]


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...

— Mainha! (como a chamava)
Estou com dor de barriga!
Ela, mesmo condoída,
Com seu garotinho briga:
— Entra na escola, danado!
Não estudar é pecado
E Papai do céu castiga.

Seus tios e primos, jovens,
Não querendo ter cuidado,
Ao pequenino travesso
Buscam manter ocupado
Com uma “perna cabeluda”
De olhos, boca e chifruda,
Deixando-o muito assustado.

Mordido por um macaco
Aos oito anos e meio,
Por um gatinho raivoso
Quando, de comoção, cheio,
O tentou salvar de um cão.
Mostrando bom coração,
Amor aos animais. Creio.

Seu pai não tem paciência!
Briga muito com o menino
Maldizendo-se da sorte,
Diz: — Só pode ser destino!
Mas o instiga a brigar:
Homem não pode apanhar!
A não ser que fale fino.

O moleque espevitado,
Gostando de confusão
Por índole, já pega “a deixa”,
Dando aquela de machão.
E assim cresceu Ricardo,
Carregador do tal fardo
Desta minha explanação.

Vendo sempre as confusões
As quais sempre se instalavam
Entre seus pais, porque eles
Constantemente brigavam,
Sentiu-se excluso pensando:
Os seus pais, sempre brigando,
Dele sequer se lembravam.

Não somente pelas brigas
Mas, também, por trabalharem,
Os dois, durante a semana,
Não dispondo para olharem
Seus filhos durante o dia,
Nenhum minuto! Ele via
Os pais se distanciarem.

Brigava com sua irmã
Para chamar a atenção,
Na porrada, no bofete,
No tapa, no beliscão...
Aí sua mãe buscou
Um tratamento encontrou,
Gratuito na Legião 3.

Só assim ela descobre
Qual, do garoto, era o mal.
Um eletroencefalograma,
O médico pede afinal
Revela-se: do menino,
A causa do desatino
É de ordem cerebral.

— Meu filho teve sarampo!
A mãe foi esclarecendo.
Porém as manchas sumiram!
O médico: — Estou entendendo:
O sarampo recolheu
E o resultado se deu
Num prejuízo tremendo.

[...]

Se o garoto não gostava
Nem um pouco de estudar
Necessitava de algo
Capaz de fazer gastar
Aquela grande energia.
Pensava ela. E temia:
O iria prejudicar.

Nesse meio tempo o jovem
Achou uma “ocupação”
Certo dia, para casa,
Um “bicho de estimação”
Traz, dizendo a mãe, sorrindo:
— Olha mãe, como ele é lindo!
Ela, a mão no coração,

— Meu filhinho, o que é isso?!
Ele diz: — Um jacaré!
Ele vai ficar comigo!
Você vai deixar, não é?
Vou criá-lo no quintal,
No tonel d’água. Que tal?
A mãe: — Filho, não dá pé!

Aos onze, ganha um presente,
Do pai. Este, uma vez mais,
Erra, doando-lhe vinho,
Bebida alcoólica. Tem mais:
O instiga a convidar
Amigos pra farrear,
Por não ser “nada demais!”

A partir daqui veremos
O que poderá fazer
O mau círculo de amizades
Envolvendo o pobre ser,
Onde a família, incapaz
De notar não corre atrás
Para o mesmo defender.

Mudou de casa e de bairro.
E logo assim que chegou
Junto aos novos amigos,
Rapidamente aprontou:
Coragem tendo de sobra,
Num morro próximo uma cobra
Matou, e o couro tirou.

Mudou, também, de colégio:
Do Sossego5 ao Maristela6;
Do Maristela ao Sagrada7.
E neste, sem mais aquela,
É reprovado e expulso!
A sua mãe, num impulso,
Quase o pegou pela esgoela.

Tendo apenas 12 anos
É um baixinho metido
O rapaz namorador,
Vê-se logo acometido
Do “mal do primeiro amor”:
Ana8, a pequenina flor,
O deixara embevecido.

Agora vai frequentar
Um Colégio Estadual9,
Suas novas amizades
Só vão causar-lhe mais mal!
Nessa altura um sem-vergonha
Apresenta-lhe a maconha
Como algo especial.

Na nova escola ele aprende,
Com o “primeiro baseado”,
A fumar, também, cigarros,
Tornando-se viciado.
Fumando cada vez mais,
Foi ficando para trás,
Deixando o livro de lado.

[...]

Ficou curioso?
Ainda tem muito mais!
Agora, só se comprar!! kkkk

Autora: Rosa Regis