No tempo dos meus avôs. Autores: Damião Metamorfose e Eduardo Viana.

*

DM

Peço ao Deus onipotente

A inspiração soberana.

Para eu e o meu Amigo

O Eduardo Viana.

Pra falarmos de um passado

Que um acordo fechado

Valia mais do que grana!

*

EV

Meu avô numa choupana

Passou a sua existência.

Do solo duro da terra

Tirou a sobrevivência.

Fartura tinha de lavra,

O homem tinha palavra,

Honra, caráter e decência.

*

DM

Saúde tinha carência

Muito mais que hoje em dia.

De uma dor de veado

Ou nó nas tripas, morria.

Mas no aconchego dos lares

Mesmo com filho aos “milhares”

Tinha amor, paz e harmonia...

*

EV

O Padre da freguesia

Viajava num jumento.

Era um luxo possuir

Um poço de cata-vento.

Pra comprar uma chibanca

Selava uma jega manca

ia comprar no FOMENTO.

*

DM

As festas de casamento

Daqueles mais abastados.

Não excluía os mais pobres

Todos eram convidados.

E o forró de pé de serra

Levantava o pó da terra

Do piso de chão socado!

*

EV

Naquele tempo passado

Não existia internet.

Não tinha computador,

Nem pen driver, nem disquete.

Luz era de candeeiro,

Artesão era santeiro,

Comprimido era cachete.

*

DM

Sutiã era corpete

E até mesmo califom.

Os carros eram de bois

De longe se ouvia o som.

Virgindade era cabaço,

Quero voltar, como faço?

Oh meu Deus que tempo bom!

*

EV

Creolina e detefon

Eram pra desinfetar.

Sob quentura de brasa

Era o ferro de engomar,

O cabo meio corcundo,

E um buraco no fundo

Pra minha vó assoprar.

*

DM

As maneiras de brincar,

Eram vaca e boi de osso,

Cavalo de pau e anel,

De doca e cair no poço...

Nessa ultima eu me esbaldava

Pois abraçava e beijava

Oh coisa boa seu moço!

*

EV

Vamos fazendo um esboço

Como era antigamente.

Tinha o rádio de Galena,

De válvula e o rabo quente.

Depois veio o ABC,

Não existia TV

E nem relógio oriente.

*

DM

Homem usava espelho e pente,

Chapéu de massa ou de palha.

Mulher usava marrafa,

Touca trança e pouca tralha.

E eram lindas ora, pois

Antes da festa e depois,

Vestindo seda ou malha

*

EV

O cigarro era de palha,

Carro chique era rural

Willis de seis cilindros

Estilo marcha Royal,

Considerada completa.

Nesse tempo bicicleta

Freava contra pedal.

*

DM

Em pedra se usava o sal,

Sabão de tripa e oiticica.

Ter família grande era

Sinônimo de gente rica.

Hoje ter mais de um casal

De filhos não é normal

Família grande complica!

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EV

Da panela de canjica

Ficou lembrança e desejo.

Da fogueira de São João,

Da conversa e do gracejo.

Duma reza de novena,

Tinteiro, borrão e pena

E xinxo de fazer queijo.

*

DM

Bicho de pé, percevejo,

Hoje não existem mais.

Beber leite com espuma

Bem cedinho nos currais.

É só uma vaga lembrança

Do meu tempo de criança

Com meus avôs e meus pais!

*

EV

Tempos dos meus ancestrais,

Quem quiser dizer que diga.

Se rezava de quebranto,

Tontura e dor de barriga.

Destões servia de troco,

Tinha rosário de coco,

Bila e confeito de liga.

*

DM

Guardava o milho na espiga

E se pilava em pilão.

Moía-se num moinho

Com duas ou uma mão.

Quase todo o santo dia

Na hora da Ave Maria

Ouvia-se Gonzagão!

*

EV

Cueca samba canção,

Calça caqui Floriano.

Paletó mescla Isabel

Cabelo tipo Moicano.

Um oratório na sala,

Um rifle movido à bala,

Entupido até o cano.

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DM

Osso pirão e tutano,

Mungunzá, baião, farinha...

Um pedaço de toucinho

Num caibro lá da cozinha.

Bem encima do fogão,

Para deixar o feijão

Com o sabor da terrinha!

*

EV

Naquele tempo galinha

Era só de capoeira.

Pois granja não existia

Nessa terra brasileira.

A tomate era sadia,

Agrotóxico não havia

Envenenando a ribeira.

*

DM

Supermercado era a feira

Ou a venda na bodega.

O filho ia com o pai

A primeira vez no brega.

Quem tem mais que a minha idade

Sabe que isso é verdade

E a verdade não se nega!

*

EV

Brinquedo era "cabra cega"

Folha de mato, dinheiro.

Se brincava de esconder

No mato ou no tabuleiro.

De polícia e ladrão mau,

Em um cavalo de pau

De vara de marmeleiro.

*

DM

Com os frutos do pereiro

Fazia galo e galinha.

Lata de óleo era um carro

Também com um carro de linha

De preferência a corrente...

-a vida era inocente,

Sadia e menos mesquinha!

*

EV

Meu avô em casa tinha

Um relho velho ensebado,

Com ele educou os filhos

Pra não fazer nada errado.

Foi melhor que psicólogo,

Não precisou de teólogo

Pra construir seu legado.

*

DM

Menino ia pro roçado

Com seis anos de idade.

Se estudasse era no sitio,

Poucos iam pra cidade.

E aquele que se formasse

Quando a casa regressasse

Era uma celebridade!

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EV

Esse tempo na verdade

Era um tempo abençoado.

Tinha um pé de onze horas

Em um caneco plantado.

Rapadura no alforje,

Uma espada de São Jorge

Pra livrar de mal olhado.

*

DM

Um casal de namorado,

Em um banco se sentavam.

Um numa ponta o outro noutra

E no meio os pais ficavam.

Só com direito a se olhar,

Tocar, beijar e abraçar...

Só depois que se casavam!

*

EV

Muitas histórias contavam

Sentados no calçadão,

Numa troca de lorotas

Por não ter televisão.

Isso janeiro a janeiro,

Sob a luz do candeeiro

Quase na escuridão.

*

DM

Foi tempo do Lampião

O temido Virgulino...

Dos senhores de engenho

E de Antônio Silvino...

E no Rio Grande do Norte

Em Patu, nasceu o forte

Justiceiro Jesuino!

*

EV

Na chuva ou no sol a pino

Os antigos tinham fé.

E para meus ancestrais

Eu retiro meu boné.

Tempo do rifle cruzeta,

Espingarda de espoleta,

Querosene jacaré.

*

DM

Tempo que se ia a pé

Ao Juazeiro do Norte.

Que emendar as camisas

Era um jogo sem sorte.

Pois no final se um tombava

O outro também ficava

Morto ou a beira da morte!

*

EV

Naquele tempo o transporte

Era jumento e cavalo.

Telefone era um apito,

Despertador era o galo.

Tabaqueiro era de chifre,

Quem quiser aí decifre

O enigma que eu Falo.

*

DM

Beber era “encher o talo”

Pouquinho era uma lapada.

Vê a missa sem o padre

Era conversa fiada.

Meu avô assim dizia:

Mas nada disso hoje em dia

Se ouve dessa moçada!

*

EV

Aquela rapaziada

Para tudo tinha idéias,

Farinha seca curava

Caganeira e diarréias.

Daquele tempo eu listo

Lembro do caminhão misto

Que tinha duas boleias.

*

DM

As crises de apnéias

Ou o sono que não desperta

Por doze horas ou mais,

Já era morte por certa.

Mas para os que sabiam

a rede ou caixão abriam

e a cova ficava aberta!

*

EV

A juventude era alerta,

Não caía em precipícios.

Tinha menos acidentes

E menos gente nos vícios.

Distante de hábitos tais,

Pois o exemplo dos pais

Só trazia benefícios.

*

DM

Os políticos nos comícios,

Prometiam a juventude

E aos mais velhos também

Mais emprego, mais saúde...

Hoje sem a ficha suja

Não mudou a dita cuja,

Queira Deus que um dia mude!

*

EV

Aquele era um tempo rude,

Mas homem tinha respeito.

Existia garantia

Pra qualquer serviço feito.

Já dizia nossos pais

Que nos tempos atuais

Foi não foi vê-se um defeito.

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DM

Limpar uma roça no eito

Beber água em uma cabaça.

Ter sombra só de um chapéu,

Trabalhar quase de graça.

No passado teve um monte,

Hoje pode ter quem conte,

Mas duvido ter quem faça!

*

EV

Corda medida por braça,

Pano medido por vara.

Feijão medido por cuia,

Balança estável na tara.

Por ruim que fosse o abrigo

Esse pessoal antigo

Tinha vergonha na cara.

*

DM

Viajar em pau de arara

Ou no lombo de um jumento.

Não ter dinheiro no banco,

Ter um banco para assento.

Dormir em cama ou esteira,

Rede ou espreguiçadeira...

Rir até do sofrimento!

*

EV

Lembro o pote poeirento

Que vovô matava a sede,

Dizendo: Por mau caminho

Meu neto não enverede.

Na quarta depois da janta,

Santos na semana santa

Virados para a parede.

*

DM

Os tornos que armavam a rede

Eram feitos de madeira.

Água se botava em latas,

Ancoreta ou roladeira.

Diferente de hoje em dia

Que pra se ter água fria

Basta abrir uma torneira!

*

EV

Nesse tempo uma parteira

Era quase uma doutora.

Para se cortar cabelos

Só precisava a tesoura.

As pílulas do doutor Ross

E as do Abade Moss

Curavam qualquer biloura.

*

DM

Pra fazer uma vassoura,

Carnaúba ou vassourinha.

Pra manter a água fria,

Pote, cabaça ou quartinha.

Cachaça era em um barril

No litrão ou num cantil

E forte feito uma “tinha”!

*

EV

Padre nosso e ladainha

A criançada sabia,

Tanto em casa como na

Escola se aprendia.

Hoje a coisa é diferente,

Ateu, católico e crente

Na prática da heresia.

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DM

Sem ser padrinho nem “tia”,

Só uma senhora ou senhor.

A gente tomava a benção

Sem ter distinção de cor.

Hoje está tudo mudado

Já não se diz: obrigado,

Com licença e, por favor!

*

EV

Na procissão, o andor

Era levado com fé.

Vizinhos se reuniam

Para tomar um café.

Tirando contras e prós,

No tempo dos meus avós

Não era como hoje é.

*

DM

Nós poderíamos até

Usar qualquer tom de vós

Para descrever em versos,

Antes durante e após.

Mas por aqui vou ficar

Feliz por poder lembrar

Do tempo dos meus avós!

*

EV

Eu digo, e pensamos nós:

Deus em primeiro lugar!

Uma história puxa outra,

Alguém chegue a comentar.

Recordando e revivendo,

Damião é um adendo

Oásis de improvisar.

Damião Metamorfose e Eduardo Viana
Enviado por Damião Metamorfose em 05/11/2013
Código do texto: T4557773
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