No tempo dos meus avôs. Autores: Damião Metamorfose e Eduardo Viana.
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DM
Peço ao Deus onipotente
A inspiração soberana.
Para eu e o meu Amigo
O Eduardo Viana.
Pra falarmos de um passado
Que um acordo fechado
Valia mais do que grana!
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EV
Meu avô numa choupana
Passou a sua existência.
Do solo duro da terra
Tirou a sobrevivência.
Fartura tinha de lavra,
O homem tinha palavra,
Honra, caráter e decência.
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DM
Saúde tinha carência
Muito mais que hoje em dia.
De uma dor de veado
Ou nó nas tripas, morria.
Mas no aconchego dos lares
Mesmo com filho aos “milhares”
Tinha amor, paz e harmonia...
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EV
O Padre da freguesia
Viajava num jumento.
Era um luxo possuir
Um poço de cata-vento.
Pra comprar uma chibanca
Selava uma jega manca
ia comprar no FOMENTO.
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DM
As festas de casamento
Daqueles mais abastados.
Não excluía os mais pobres
Todos eram convidados.
E o forró de pé de serra
Levantava o pó da terra
Do piso de chão socado!
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EV
Naquele tempo passado
Não existia internet.
Não tinha computador,
Nem pen driver, nem disquete.
Luz era de candeeiro,
Artesão era santeiro,
Comprimido era cachete.
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DM
Sutiã era corpete
E até mesmo califom.
Os carros eram de bois
De longe se ouvia o som.
Virgindade era cabaço,
Quero voltar, como faço?
Oh meu Deus que tempo bom!
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EV
Creolina e detefon
Eram pra desinfetar.
Sob quentura de brasa
Era o ferro de engomar,
O cabo meio corcundo,
E um buraco no fundo
Pra minha vó assoprar.
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DM
As maneiras de brincar,
Eram vaca e boi de osso,
Cavalo de pau e anel,
De doca e cair no poço...
Nessa ultima eu me esbaldava
Pois abraçava e beijava
Oh coisa boa seu moço!
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EV
Vamos fazendo um esboço
Como era antigamente.
Tinha o rádio de Galena,
De válvula e o rabo quente.
Depois veio o ABC,
Não existia TV
E nem relógio oriente.
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DM
Homem usava espelho e pente,
Chapéu de massa ou de palha.
Mulher usava marrafa,
Touca trança e pouca tralha.
E eram lindas ora, pois
Antes da festa e depois,
Vestindo seda ou malha
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EV
O cigarro era de palha,
Carro chique era rural
Willis de seis cilindros
Estilo marcha Royal,
Considerada completa.
Nesse tempo bicicleta
Freava contra pedal.
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DM
Em pedra se usava o sal,
Sabão de tripa e oiticica.
Ter família grande era
Sinônimo de gente rica.
Hoje ter mais de um casal
De filhos não é normal
Família grande complica!
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EV
Da panela de canjica
Ficou lembrança e desejo.
Da fogueira de São João,
Da conversa e do gracejo.
Duma reza de novena,
Tinteiro, borrão e pena
E xinxo de fazer queijo.
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DM
Bicho de pé, percevejo,
Hoje não existem mais.
Beber leite com espuma
Bem cedinho nos currais.
É só uma vaga lembrança
Do meu tempo de criança
Com meus avôs e meus pais!
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EV
Tempos dos meus ancestrais,
Quem quiser dizer que diga.
Se rezava de quebranto,
Tontura e dor de barriga.
Destões servia de troco,
Tinha rosário de coco,
Bila e confeito de liga.
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DM
Guardava o milho na espiga
E se pilava em pilão.
Moía-se num moinho
Com duas ou uma mão.
Quase todo o santo dia
Na hora da Ave Maria
Ouvia-se Gonzagão!
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EV
Cueca samba canção,
Calça caqui Floriano.
Paletó mescla Isabel
Cabelo tipo Moicano.
Um oratório na sala,
Um rifle movido à bala,
Entupido até o cano.
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DM
Osso pirão e tutano,
Mungunzá, baião, farinha...
Um pedaço de toucinho
Num caibro lá da cozinha.
Bem encima do fogão,
Para deixar o feijão
Com o sabor da terrinha!
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EV
Naquele tempo galinha
Era só de capoeira.
Pois granja não existia
Nessa terra brasileira.
A tomate era sadia,
Agrotóxico não havia
Envenenando a ribeira.
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DM
Supermercado era a feira
Ou a venda na bodega.
O filho ia com o pai
A primeira vez no brega.
Quem tem mais que a minha idade
Sabe que isso é verdade
E a verdade não se nega!
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EV
Brinquedo era "cabra cega"
Folha de mato, dinheiro.
Se brincava de esconder
No mato ou no tabuleiro.
De polícia e ladrão mau,
Em um cavalo de pau
De vara de marmeleiro.
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DM
Com os frutos do pereiro
Fazia galo e galinha.
Lata de óleo era um carro
Também com um carro de linha
De preferência a corrente...
-a vida era inocente,
Sadia e menos mesquinha!
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EV
Meu avô em casa tinha
Um relho velho ensebado,
Com ele educou os filhos
Pra não fazer nada errado.
Foi melhor que psicólogo,
Não precisou de teólogo
Pra construir seu legado.
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DM
Menino ia pro roçado
Com seis anos de idade.
Se estudasse era no sitio,
Poucos iam pra cidade.
E aquele que se formasse
Quando a casa regressasse
Era uma celebridade!
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EV
Esse tempo na verdade
Era um tempo abençoado.
Tinha um pé de onze horas
Em um caneco plantado.
Rapadura no alforje,
Uma espada de São Jorge
Pra livrar de mal olhado.
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DM
Um casal de namorado,
Em um banco se sentavam.
Um numa ponta o outro noutra
E no meio os pais ficavam.
Só com direito a se olhar,
Tocar, beijar e abraçar...
Só depois que se casavam!
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EV
Muitas histórias contavam
Sentados no calçadão,
Numa troca de lorotas
Por não ter televisão.
Isso janeiro a janeiro,
Sob a luz do candeeiro
Quase na escuridão.
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DM
Foi tempo do Lampião
O temido Virgulino...
Dos senhores de engenho
E de Antônio Silvino...
E no Rio Grande do Norte
Em Patu, nasceu o forte
Justiceiro Jesuino!
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EV
Na chuva ou no sol a pino
Os antigos tinham fé.
E para meus ancestrais
Eu retiro meu boné.
Tempo do rifle cruzeta,
Espingarda de espoleta,
Querosene jacaré.
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DM
Tempo que se ia a pé
Ao Juazeiro do Norte.
Que emendar as camisas
Era um jogo sem sorte.
Pois no final se um tombava
O outro também ficava
Morto ou a beira da morte!
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EV
Naquele tempo o transporte
Era jumento e cavalo.
Telefone era um apito,
Despertador era o galo.
Tabaqueiro era de chifre,
Quem quiser aí decifre
O enigma que eu Falo.
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DM
Beber era “encher o talo”
Pouquinho era uma lapada.
Vê a missa sem o padre
Era conversa fiada.
Meu avô assim dizia:
Mas nada disso hoje em dia
Se ouve dessa moçada!
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EV
Aquela rapaziada
Para tudo tinha idéias,
Farinha seca curava
Caganeira e diarréias.
Daquele tempo eu listo
Lembro do caminhão misto
Que tinha duas boleias.
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DM
As crises de apnéias
Ou o sono que não desperta
Por doze horas ou mais,
Já era morte por certa.
Mas para os que sabiam
a rede ou caixão abriam
e a cova ficava aberta!
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EV
A juventude era alerta,
Não caía em precipícios.
Tinha menos acidentes
E menos gente nos vícios.
Distante de hábitos tais,
Pois o exemplo dos pais
Só trazia benefícios.
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DM
Os políticos nos comícios,
Prometiam a juventude
E aos mais velhos também
Mais emprego, mais saúde...
Hoje sem a ficha suja
Não mudou a dita cuja,
Queira Deus que um dia mude!
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EV
Aquele era um tempo rude,
Mas homem tinha respeito.
Existia garantia
Pra qualquer serviço feito.
Já dizia nossos pais
Que nos tempos atuais
Foi não foi vê-se um defeito.
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DM
Limpar uma roça no eito
Beber água em uma cabaça.
Ter sombra só de um chapéu,
Trabalhar quase de graça.
No passado teve um monte,
Hoje pode ter quem conte,
Mas duvido ter quem faça!
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EV
Corda medida por braça,
Pano medido por vara.
Feijão medido por cuia,
Balança estável na tara.
Por ruim que fosse o abrigo
Esse pessoal antigo
Tinha vergonha na cara.
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DM
Viajar em pau de arara
Ou no lombo de um jumento.
Não ter dinheiro no banco,
Ter um banco para assento.
Dormir em cama ou esteira,
Rede ou espreguiçadeira...
Rir até do sofrimento!
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EV
Lembro o pote poeirento
Que vovô matava a sede,
Dizendo: Por mau caminho
Meu neto não enverede.
Na quarta depois da janta,
Santos na semana santa
Virados para a parede.
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DM
Os tornos que armavam a rede
Eram feitos de madeira.
Água se botava em latas,
Ancoreta ou roladeira.
Diferente de hoje em dia
Que pra se ter água fria
Basta abrir uma torneira!
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EV
Nesse tempo uma parteira
Era quase uma doutora.
Para se cortar cabelos
Só precisava a tesoura.
As pílulas do doutor Ross
E as do Abade Moss
Curavam qualquer biloura.
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DM
Pra fazer uma vassoura,
Carnaúba ou vassourinha.
Pra manter a água fria,
Pote, cabaça ou quartinha.
Cachaça era em um barril
No litrão ou num cantil
E forte feito uma “tinha”!
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EV
Padre nosso e ladainha
A criançada sabia,
Tanto em casa como na
Escola se aprendia.
Hoje a coisa é diferente,
Ateu, católico e crente
Na prática da heresia.
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DM
Sem ser padrinho nem “tia”,
Só uma senhora ou senhor.
A gente tomava a benção
Sem ter distinção de cor.
Hoje está tudo mudado
Já não se diz: obrigado,
Com licença e, por favor!
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EV
Na procissão, o andor
Era levado com fé.
Vizinhos se reuniam
Para tomar um café.
Tirando contras e prós,
No tempo dos meus avós
Não era como hoje é.
*
DM
Nós poderíamos até
Usar qualquer tom de vós
Para descrever em versos,
Antes durante e após.
Mas por aqui vou ficar
Feliz por poder lembrar
Do tempo dos meus avós!
*
EV
Eu digo, e pensamos nós:
Deus em primeiro lugar!
Uma história puxa outra,
Alguém chegue a comentar.
Recordando e revivendo,
Damião é um adendo
Oásis de improvisar.