Cordelzinho de nada
Poeta pensando em nada
E o nada também diz tudo
Que a rima é uma espada
E o cordel é o meu escudo
Depois de tudo tem nada
O nada é o que não existe
Vazio que no peito persiste
No teu coração fez pousada
Mentira é ruim e engabela
Tua proposta é uma mixaria
Coisinha alguma é ninharia
É coisa nenhuma, bagatela
De Sartre o ser e o nada
É ausência de existência
Amar, assim, é roubada
O amor requer ardência
Penso, não sou pensado
No cordel da alma lavada
Não há de quê é de nada
A Deus eu digo obrigado
O que fizeste foi de nada
Irrisório, insignificante
Mas que coisa arrogante
Mas que conversa fiada
Foi pouca a consideração
Inspira nenhum respeito
Não tira sequer proveito
Que péssima a reputação
Algo foi feito, mas em vão
O seu nada feito foi inútil
O teu motivo é bem fútil
E viver de sonho é ilusão
Foi quase, talvez, nada disso
De novo e de forma alguma
Que nada, novidade nenhuma
De jeito nenhum sou omisso
Primeiro lugar, antes de tudo
Primeiro, antes de mais nada
Por um triz, quase na porrada
Por pouco, se calo não mudo
Há nada, ainda há pouco
Foi há pouco tempo atrás
O muito parece tão pouco
E o pouco foi pouco, aliás
O nada é o ser que padece
O inútil não tem serventia
Servir a quem não merece
Foi nada, contudo, todavia
Não sirvo, não sou ninguém
Não teve sequer humildade
Que préstimo é a utilidade
E o nada mais não convém
À tristeza não dou apreço
Não tenho nada com isso
Sem laço ou compromisso
A verdade é o que mereço
A minha origem é do nada
Consciência é que importa
O amor não entra em porta
Que sempre esteja trancada
Nada menos que a verdade
Não sou sequer teu parente
Mas, por lhe ser indiferente
Eu sequer lhe tenho amizade
Não tenho amizade contigo
Não tenho responsabilidade
Se te amar é correr o perigo
Eu tenho comigo a vontade
E num cordelzinho de nada
O tudo e o nada têm lugar
No cordel a rima é danada
Tem nada não, deixe estar