CORDEL – Vícios de linguagem – 31.10.2013
Pretendo, com essa brincadeira, mostrar aos leitores alguns vícios de nossa língua portuguesa, sem o intuito de dar aula, claro, até por que me faltam condições, e o assunto é por demais palpitante. Os poucos exemplos dados nesse cordel nos mostram como são interessantes alguns dos vícios, notadamente os da “Cacografia” e da "Cacofonia", que muitas vezes aparecem com um palavrão, resultante da fusão de palavras ou sílabas empregadas. Meu abraço a todos quantos visitarem essa página. O campo é muito fértil para exploração.
CORDEL – Vícios de linguagem – 31.10.2013
Oitavas de sete sílabas poéticas
Sem mote
Elisão optativa
Interações à vontade
Ambiguidade, por exemplo,
Não deixa de ser um vício
Duplo sentido contemplo
Pois logo fica o resquício
“Cachorra da minha sogra
Nunca mais saiu de casa”
Ela pensa que me logra
Mas com essa ela arrasa
“O julgamento do Mestre”
Ocorrerá amanhã
Eita que cabra da peste
Só por causa da maçã
Será que vai seu julgado
Ou julgar no tribunal
Duplo sentido formado
Para o bem ou para o mal
Tem também o barbarismo
Que é grafia ou pronúncia
Inadequada ou cinismo
Daqui faço a denúncia
“Rúbrica, previlégio,
Reinvindicação, necropsia”,
Mas parecem sacrilégio
Necessitam de autópsia
Temos a cacografia
Que é formação sonora
Que jamais fora sadia
Quem quiser que veja agora
“Não percebemos então
Onde estava a boca dela”
A mulher virou um cão
Vai quebrar sua canela
Mas outra que não é rara
Pra mim tudo piorou
“Ele me jogou na cara
Que sempre me ajudou”
Vi no “álbum da Maria”
Audição desagradável
Não diga que não sabia
Desse erro imperdoável
“Amar ela é meu destino”
Falo com toda certeza
No amarelar vespertino
Vou fazer minha proeza
“Mas não caso sem a mala”
Isso não é olho grande
Que por aí se propala
Mas o amor que se expande
Eu namorei linda moça
Entretanto “a bela foi-se”
Penso que caiu na poça,
Acho que ela endoidou-se
Mas a foice é afiada
Corta tudo pra valer
Só não corta minha amada
Pra não me aborrecer
Num jogo de futebol
“A equipe cão” venceu
Com jogadores de escol
Mas então deu no que deu
“A mula tinha” dois pés
Coxos estavam na vista
E se curou dos chulés
E garantiu a conquista
“Ali se” come até bem
Todo mundo satisfeito
Mas a Alice, porém,
É mulher de muito jeito
Direita como ninguém
Virgem até dizer basta
Não gosta do vai e vem
Tanto é bela como casta
Essa é bem conhecida
“Amigo é pra acudir outro”
Diz essa gente sabida
Ignorante ou mesmo douto
Eu mesmo não estou pronto
Pra acudir a ninguém
Não sou leso e nem tonto
Falo isso sem desdém
Ele apanhou um porrete
E foi “pá nela” bem rápido
Na perna fez torniquete
Parente de seu Agápito
Deu-se mal o tal sujeito
A moça era decente
Ele não foi bem aceito
No fundo era demente
Mas as leis como as “concebo”
Não poderão ser inúteis
Com sebo logo percebo
Pois parecem coisas fúteis
Presta pra fazer sabão
Produto para limpeza
Começa lavando a mão
E também a sua alteza
Mas eu pergunto “cadê ela”
Ninguém sabe responder
Viajou a cinderela
Para desaparecer
Mas cadela é o diacho
Ou sua mãe seu safado
Foi banhar-se no riacho
Uma mulher de cuidado
Pergunto eu, por exemplo,
“Se em buraco de paca
Tatu caminha bem dentro”
Mesmo estando de ressaca
Ou de isca venenosa
Da parte do caçador
Que nunca está de prosa
Porque sempre é matador
Meu professor de latim
Era um grande cobrão
Só sabia dizer sim
Cabra de bom coração
Boa amizade mantinha
Com o povo do colégio
Mas ele nem “tempo tinha”
Pra manter o privilégio
Imagem: GOOGLE
E por aí vai...
Ansilgus