CORDEL (A)FINADO

CORDEL (A)FINADO

Silva Filho

Se tudo passa na vida

Nós também vamos passando

Uns devagar, escorando

Outros em louca corrida;

Uns brigando por comida

Outros comprando fiado

Mas somente o aposentado

Faz um refrão com trejeitos

Vou lutar por meus direitos

Enquanto não sou finado.

Passa a fase de criança

Passa nossa juventude

Passando a bola de gude

Deixando só esperança;

Passa também a lembrança

Do cidadão respeitado

Que hoje é escorchado

Por governos insuspeitos

Vou lutar por meus direitos

Enquanto não sou finado.

Passa o tempo de estudo

Saudades da Faculdade

Tempos de credulidade

Promessas dalgum escudo;

Mas na era do barbudo

Bem me lembro do ditado

Quem nasce torto, coitado

Não tem os traços refeitos

Vou lutar por meus direitos

Enquanto não sou finado.

O Governo vai passando

Mas a fome não desiste

Qualquer promessa é chiste

Pra quem ficou esperando;

O pobre vai desmaiando

Sem sequer ser medicado

O remédio foi roubado

O hospital não tem leitos

Vou lutar por meus direitos

Enquanto não sou finado.

Se correr o bicho pega

Se ficar o bicho come

O eleito sempre some

E o seu passado renega;

A Justiça nasceu cega

E o Congresso ocupado

Tem trabalho redobrado

Pra corrigir seus defeitos

Vou lutar por meus direitos

Enquanto não sou finado.