SAUDADE EM CARNE E OSSO.
Raspo as minhas lembranças
No ralo da minha saudade
De vez em guando eu me esqueço
De voltar a realidade
Saudade manga espada
Saudade esfarelada
Na mesa da mocidade.
São léguas de sentimentos
Que o peito perde de vista
Vendo o maduro do sol
No meio dia na pista
Vai caminhão de apreço
Sem rumo sem endereço
Na imaginação do artista.
Lá no pomar das lembranças
Soluços de mamão papaia
Se agarraram os carrapichos
Na barra de tua saia
Fostes pudizinho da manhã
Bochechinhas de rumã
Num vestidinho de canbraia.
Não volto a realidade
Mãos campeiras me detém
Com água boa de uma cuia
Dessas que o matuto tem
Em pote no pé da perade
É no balançar da rede
Que a saudade vai e vem.
No cheiro bom do cuscuz
Que bafora a cuscuzeira
No ponto bem ensopado
Com leite puro da feira
Saudade manteiga e nata
Dessas vendida em lata
Aberta a fio de peixira.
Saudade mãe do meu sono
cafunezinho de sonhar
Vale mais que mil cochilos
O dormir que ela me dá
Sem visões nem desmantelos
Sem ronco nem pesadelos
Sem vontade de acordar.
Saudade santa imaculada
Que no oratório da lembrança tem
De mãos postas e veladas
Recordo da minha mãe também
Saudades com pedestal
Numa igreja de cristal
Com aleluia e amém.
Saudade lua caiada
No horto do meu querer
quanto mais sinto saudades
Mais sinto que quero ter
Um dia desses quem sabe
Saudade em mim se acabe
Saudades de mim vão ter.
Saudade é como o arado
Que lavra a terra do escrito
Depois de pronto o roçado
Plantado no infinito
Ás lágtimas orvalham a flor
Brotam poemas de amor
Nascem versos mais bonitos.
Solto as redeas do vento
Num pensamento veloz
E vejo a cor da saudade
Colorindo a todos nós
Saudades a todos alcança
Saudades grilo esperança
No verde do aveloz.
Saudade coalhada e soro
De queijo branco e textura
Saudade assada em brasa
Cor da aurora mais pura
É isso que a gente sente
Guando a saudade na gente
Encarca torce e fura.
Saudade é tudo isso
Aroeira pra ferida
unguento para a tristeza
Batata doce cuzida
Saudade angu de caroço
Saudade em carne e osso
É a catuaba da vida.