MEU PROFESSOR DE CORDEL
Eu já usei do cordel
E vou usar muito mais
Carimbando no papel
Lembranças dos ancestrais
Imprimindo na cartilha
Personagens da família
Como fiz com os meus pais.
Se eu escrevo cordel
É porque fui ensinado
Pelo poeta maior
Professor condecorado
Pela escola do verso
Que me mostrou um universo
Onde tudo é rimado.
Meu avô foi o meu mestre
No escrito popular
Sem papel e sem caneta
Fez o seu neto rimar
Boêmias rima com fêmeas
Rimas são palavras gêmeas
Parecidas no falar.
Me disse que os versos
Estão todos fecundados
Não é preciso esforço
Para serem criados
Pois no ventre da inspiração
Dão a luz a composição
E nascem todos rimados.
Me disse que os poetas
Repentistas e cantadores
Tinham a emoção em punho
No combate a mágoa e dores
Que poesia tem a cor e a textura
De um cardeiro plantado na cultura
Sob o sol quente dos compositores.
Meu avô foi fartura de avô
Foi um feixe de motes de alegria
Foi lavoura verde no roçado
Roçado em flor de sua Maria
Foi almoço de rimas bem servidos
Foi pirão de versos bem cuzidos
Em um prato cheio de poesia.