O Morro das Tribuzanas
Dedicado a Suzene Furtado Fonseca
De tudo dessa vida
q’eu pudia tê visto
nas passage dos dia,
q’eu já vi, eu afirmo.
E tem de tê ginga
pra vê tanta latumia
e inda siguí vivo.
Apois bem, q’isturdia
num ranchim eu passei,
disapiei de Tininha
(esse é o nome que dei
para jumenta mia)
e a lua, lêm cima,
de oiá eu cismei.
Él’ era só um risco
no nigrume da noite.
De repente d’um cisco,
como que por má sorte,
meu ôi ficô ardido.
Êta cisco maldito
arden’ que nem açoite.
Do nada um quilarão
vêi cortá o horizonte.
Pidí Deus a benção
cum medo da morte,
apois eu vi um cobrão
como fog’ de São Jão
quemano lá no monte.
Ah!... foi com’ eu cruzasse
câmim de caipora
quan’ vi aquela face:
face dura a da cobra.
“Ah! dêxa de bestage!”
- disse eu - “anda log’! Arre!”
Lembro ingual fosse agora:
Amuntei nim Tininha
e rumei lá pra serra.
No q’eu ía lêm riba
panhei as ferramenta,
garrucha e facão ía
pra infrentá as latumia
aquês bich’ dos capeta.
Lêm cima o q’ avisto:
um grande cimitéro,
e o vento, num riso,
(riso morto, riso séro)
me tirav’ o meu tino,
‘Quéla bruma e o frio
be'ingualin a dum brejo.
E dava pra iscuitá,
mexeno nos caxão,
as cavêra a gritá
inhalta gemeção.
És tav’ era a pagá
daquil’ que vêm tentá
as alma dos cristão.
Intonce ua das cova
foi suzia aumentano
q’as mão da pecadora
a cov’ ia cavano
bem de dent’ para fora
a sua cabeça ôca
foi sain’ e falano:
“Entra pa dent’ bich’ besta
q’eu t’ insin’ sobr’ a morte!”
Naquil’eu gritei: “Renca!”,
fechei meus óio forte,
dei um tiro na cavêra,
finguei meu facão nela
e gritei: “Meu São Jorge!”
Fiquei oiano o crâino
pregado na espada
e eu todo suano
larguei ela de banda.
Nunca mai, nem pru mando
eu volto naquele rancho
no Morr’ da Tribuzana.
Tanta coisa q’eu vejo
Rodan’ esse sertão;
Ora é trêm dos inferno,
Vêiz é uns trem bão
Ah! Mais eu só ‘gradeço
Deus, em quem tanto creio:
O que dá a salvação,
Reina sobre o sertão.