A lua vem surgino/ interação da cumade Hull
Airam Ribeiro
Tô aqui no batente da jinela
Ispiano lá fora a iscuridão
Bem longe uma luizinha maréla
Núncia qui tem gente no boquirão
Uma istrela la no céu rabisca
Cá imbáxo os vagalume pisca
E lá no brejo ouço a oquestração.
Lá mais longe late um caxorro
Ele late mais eu nun sei o que
O latimento é distráis dum morro
Nada nadica daqui cunsigo vê
Os grilo faiz a sua cantoria
E lá no brejo canta sapos e gia
Nunciano qui ta quereno xuvê.
E eu aqui numa ança danada
De vê logo a lua na serra apontá
Pra lumiá toda esta xapada.
Lá no céu um avião ta a passá
Qui eu vejo inté suas luis piscano
O pássaro de ferro vai vuano
Qui penso, só Deus ali pra sigurá!
Lá dento a minha muié
Ta perparano o nosso jantá
Qui digo nun é nium sarapaté
É uma galinha caipira qui ta a xerá.
No currá de Jorge um bizerro berra
O qui responde a vaca na serra
Cuma quem iscuita o seu fio xorá.
E o tempo vai só passano
Mais nada da lua aparicê
Eu quero vê ela alumiano
Pros segredo da noite a gente vê
Inquanto isso vô na cuzinha
Pegá tira gosto de galinha
Depois de um gole de vim eu bebê.
Depois de muitios minutos lá vem ela
Pur distrais da serra despontano
Ao som duma batida de cancela
Ela vai aos pôco a baxada alumiano
Que resplandece lá na fôia do coqueiro
Nun demora alumia o vale inteiro
Qui os sapos na lagoa vai nunciano.
Quando o pratiado bate na lagoa
Qui mais parece um ispêi a refletí
Da jinéla fico oiano as taboa
Qui cum o vento elas baila no bulí
Já é tarde e ao som de sapos e perereca
Vô pra dento pra tirá a minha soneca
Pois tô cansado e já é ora de drumí.
E ancim eu vô passano a taraméla
Cuma se ela fosse ali um butão
E cuma tomém fosse a jinéla
A parecença de uma tulevizão
E de dento inda ouvo um relinxá
Dum cavalo e uma égua a namorá
Nos seus modo de fazê cazalação.
Hull de La Fuente
NOITES DE ITANHEM
Essa Lua desejada
que o cumpadi esperô
ouvino rãs e a grilada
nos seus canto de lovô
chegô toda alumiada
dexano a noite prateada
coisas de nosso Senhô.
Iluminô toda serra
num deu veiz pra iscuridão
E o bom Deus que num erra
abençuoô o sertão
Visitô cada casinha
E viu a Mariazinha
orando por paz na terra.
Nosso Deus tomém velô
enquanto ocê durmia
seu sono reposadô
e a chegada doutro dia.
Os ruído do sertão
Ao bom Deus deu emoção
e O encheu de alegria.
A Lua no céu andava
olhando di lá do alto
parecia qui cherava
as florzinha do planalto.
Meu cumpadi, cum certeza
este seu cordel beleza
é coisa do Deus que exalto.
Eu gosto da Lua Cheia
e das noiti enluarada
por isso que volta e meia
canto pela madrugada.
E me alembro do sinhô
que é um bom tocadô
de uma gaita afinada.
Cumpadi tô isperano
o tempu logo passá
pra ver o sinhô chegano
pramodi nóis si incontrá
Sei qui aqui em Sobradinho
o céu é bem mais baixinho
na Lua vamos tocá.
Meu cumpadi, tenha uma noite na paz do Senhor. Um grande abraço,