QUEM SE METE A NAMORAR, PODE UM DIA SE FERRAR.

Estou aqui outra vez,

Trazendo a meu leitor,

Esse causo engraçado,

Pro lado de Resplendor,

De lá das Minas Gerais,

Eu não esqueci jamais,

Desse causo meu senhor.

Conta-se que existia,

Lá nesse tal resplendor,

Dois sujeitos papo mole,

Mentirosos e palrador,

E esses dois se gabava,

Pra todo o povo falava,

Dizendo-se namorador.

Todo mundo conhecia,

A fama dos falastrões,

E naquelas redondezas,

Empregados e patrões,

Tudo que se comentava,

Segundo o que escutava,

Falavam as multidões.

Filhos de pais separados,

Mas eram quase parentes,

Não valiam um vintém,

Pareciam nem ser gente,

Eram chamados lacraias,

Bastava um rabo de saia,

Pra eles ficarem contentes.

Esse causo aconteceu,

Há muito tempo atrás,

Nas estradas do Brasil,

Só se andava em animais,

Ainda o tal de progresso,

Não se sabia por certo,

Chegar por lá foi capaz.

Os dois fizeram um trato,

Para percorrer o Brasil,

E depois de certo tempo,

Voltar de onde partiu,

E contar suas andanças,

Os sucessos e lambanças,

E o que cada um viu.

E assim os dois saíram,

Em seus cavalos montados,

De inicio estavam os dois,

Cavalgando lado a lado,

Depois de algumas horas,

Um do outro foi embora,

Em busca de resultados.

Dizem que isso se deu,

Lá pra banda do sudeste,

Esses dois aventureiros,

Feito dois cabra da peste,

Desde a hora que partiu,

Os dois nunca mais se viu,

Durante o tempo de teste.

Passando-se alguns anos,

Depois de muito andar,

Conforme o combinado,

Os dois foram se encontrar,

Já os dois de meia idade,

Naquela mesma cidade,

Foram às purezas contar.

O primeiro foi depressa,

Falar de suas conquistas,

Dos lugares que passou,

Lá pelas terras sulistas,

Das infindas namoradas,

Que deixou apaixonada,

Que não cabiam em listas.

O outro também contou,

Que tinha se dado bem,

Dizendo que as namoradas,

Tinham sido mais de cem,

Pois pra ele sendo mulher,

Acredite quem quiser,

Não dispensava ninguém.

E contou de sua ultima,

Dizendo nessa me ferrei

Mulher bonita era aquela,

Grande sufoco ali passei,

Até hoje eu me pergunto,

Se não é falta de assunto,

Pois onde foi que errei.

Então começou contar,

De sua grande mancada,

Como a tinha conhecido,

Num baile pelas estradas,

Dizendo que a conquista,

Foi logo a primeira vista,

Que a deixou apaixonada.

No inicio de uma valsa,

Chamei-a então pra dançar,

Oh mulher que dança bem,

Via-se em seu caminhar,

E o papo foi engrossando,

Que foi a mim se apegando,

E não quis mais me soltar.

Dancei o resto da noite,

Até o dia amanhecer,

Perguntei onde morava,

E ela então foi me dizer,

Eu moro em Pirapora,

Fica daqui duas horas,

Disse eu gostei de você.

Eu moro numa mansão,

Que fica bem de esquina,

Porem o meu coração,

No amor nunca se afina,

Pois quero a você convidar,

Para ir um dia me visitar,

Quebrando essa minha sina.

Mas que depressa peguei,

O tão desejado endereço,

E no outro dia cavalguei,

Eu lhe tive grande apreço,

Fui parar lá em Pirapora,

Mas olha malditosa hora,

Pois paguei um alto preço.

Ali encontrei a dita casa,

Bati palma no portão,

A mulher saiu sorrindo,

Numa alegria do cão,

Eu fiquei todo assanhado,

E os planos arquitetados,

Dizendo é hoje patrão.

A mesa ali estava farta,

Com todas suas iguarias,

Comida de vários tipos,

Tantos que nem conhecia,

Assim me disse a mulher,

Coma amor o que quiser,

Vou tomar uma ducha fria.

Senti-me o dono da casa,

Estava pousando de rei,

Foi quando chega à mulher,

Dizendo-me de uma vez,

Vamos ali para a cama,

Bom lugar pra que se ama,

Pois não amo faz dez mês.

Mas que depressa corri,

Pra experimentar o colchão,

A cama toda perfumada,

Senti-me ali um Sultão,

Porem no melhor da festa,

Ouvi ali uma conversa,

Já de dentro do portão.

A mulher nesse momento,

Disse-me toda assustada,

Meu amor é meu marido,

Não disse, mas sou casada,

Vista esse vestido comprido,

Vou dizer a meu marido,

Que é a nossa empregada.

Mais que depressa vesti,

A roupa que ela me deu,

Fiquei de cabeça baixa,

Fingindo que não era eu,

Foi que entrou o cornão,

Com um revolver na mão,

A minha perna tremeu.

Logo então a abraçou,

E perguntou quem é essa?

Ela disse é a empregada,

E ele disse é bom abessa,

Veja se ela vai agüentar,

Dê as roupas pra passar,

Quero ver se ela presta.

E lá estou eu meu amigo,

O monte de roupa a passar,

De vez enquanto o marido,

Vinha com as mãos apalpar,

Dizendo estou rindo atoa,

Essa nova empregada é boa,

Eu posso dela provar?

Então gritou a mulher,

Fingindo-se enciumada,

Dizendo então é por isso,

Que não para empregada,

Dizendo vai se aquietar,

Deixe a moça trabalhar,

Há muita roupa amassada.

Disse pra ele vai dormir,

Que você está cansado,

Além de me chegar tarde,

Só me chega embriagado,

Pois cheguei à conclusão,

Que você como patrão,

Não pára um empregado.

Ele dizia assim meu bem,

Deixa-me ver o rosto dela,

Pois pelo porte elegante,

É uma mulher muito bela,

Se passar na experiência,

Sem peso de consciência,

Hoje mesmo contrato ela.

Disse-me ela aproveite,

Meu marido ta dormindo,

Corra depressa dê o fora,

Falou-me isso sorrindo,

E eu já todo arrebentado,

Com os dedos queimados,

Corri feito um desvalido.

Nisso o monte de roupa,

Eu passei naquela hora,

Era roupa pra miséria,

Estou cansado até agora,

Olha que sai só de calção,

Camisa e calças na mão,

Desembestei dei o fora.

Montando no meu cavalo,

Que ainda estava selado,

Cai fora o mais depressa,

Com um medo desgraçado,

Desse sufoco pode crer,

Nunca mais vou esquecer,

Do jeito que foi passado.

Ao contar essas purezas,

O seu amigo ali do lado,

Ria quase se acabando,

Daquele causo contado,

Dizendo consigo ai que dó,

Se ele soubesse da maior,

Como também fui ferrado.

Ao ver o seu colega rindo,

Ficou então reclamando,

Dizendo o que há contigo,

Parece está me gozando,

O amigo então respondeu,

Se souber o que aconteceu,

Não ficavas isso pensando.

Pois toda aquela roupa,

Que você disse passar,

Tenha com toda certeza,

Não quero de ti mangar,

Naquela mesma mansão,

Passei um sufoco do cão,

Pra toda essa roupa lavar.

Agora gracejavam os dois,

Pensando na tal mancada,

Que eles dois sem saber,

Caíram na mesma cilada,

Disseram um momento,

Perdemos o nosso tempo,

Nessa aposta condenada.

Saiba toda aquela roupa,

Eu lavei e você passou,

Essa tal de mulher bonita,

De nós dois se aproveitou,

Serviu pra gente aprender,

Que isso pode acontecer,

Com quem é conquistador.

Assim findo esse cordel.

Com esse causo engraçado,

Se aconteceu eu não sei,

E foi por alguém contado,

Não sei quem o vivenciou,

Eu sou apenas o escritor,

Desse cordel engraçado.

Cosme B Araujo.

30/09/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 30/09/2013
Reeditado em 04/10/2013
Código do texto: T4504480
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