O homem-alfabeto
Alfabeto é soma e som
Som é canto e fonema
Cordel é quase um dom
Da rima eu faço poema
Alphabetum vem do latim
E alphabetos do grego
Cordel é meu aconchego
Rimando, eu vivo assim
É no ABC do Aleph e Bet
Escrevo no idioma fenício
A rima é quase um ofício
Som no cordel se repete
Alef é o meu velho pai
Beit é a mãe e a casa
Cordel é som e arrasa
E até em hebraico sai
O verbo é a pura verdade
A Bíblia é a santa palavra
Amigo, no cordel se lavra
Riqueza da nossa amizade
Alma no Egito, lembrança
Ab é a gota do coração
Que durante a concepção
A mãe destinou à criança
Maat é a deusa da justiça
A morte não pesa na alma
Verdade, a leveza acalma
E o teu amor me enfeitiça
Egípcios criaram o alfabeto
Ou foram fenícios na Grécia
Cadmo nos ensinou correto
Ao bárbaro, arte, peripécia
Cécrope de Atenas, o grego
Ou Lino de Tebas o mentor
Palamedes de Argos, autor
Em Troia não teve sossego
No grego tem alfa e beta
É ab ou ib pros hebreus
A divindade é meu Deus
E cordel o ABC do poeta
O meu alfabeto é o latim
Na Itália alfabeto etrusco
E no be-a-bá eu te busco
Até no ABC eu digo assim
Na tua sílaba só há vogais
Consoante eu te namore
Teu corpo o meu implore
Querendo e pedindo mais
O jamais é sempre agora
E o quase não vale nada
Morena, na tua chegada
O sim com o teu namora
O ontem disse que passa
Presente me disse um oi
E o hoje me disse: massa
Amanhã me diga que foi
Morena, teu “não” é talvez
E o "nunca" sequer existe
Só ama quem não desiste
Meu sim é você, toda vez
Não tenho pressa, menina
A vida me ensinou alfabeto
O cordel é o mapa da mina
Pro teu coração fiz trajeto