BRIGA DE COMPADRES

Meu compadre Zé Mané

Que era muito amigo meu

E um dia me socorreu

Servindo-me um bom café

Tempos atrás veio até

Em frente meu casarão

Bateu palmas no portão

Perguntando oi de casa

Não tenho fogo nem brasa

Respondi na ocasião.

Eu dei nele um abração

Falei o que sempre digo

Você é aquele amigo

Que guardo no coração

Apertei dele a mão

Convidando-o pra entrar

Um trago vamos tomar

E ficar junto à lareira

Pois temos a noite inteira

Para a gente prosear.

Vamos o tempo passar

Aqui juntos numa boa

Eu também estou à toa

Então vamos conversar

Sobre a terra e o mar

Falar de outros assuntos

Até mesmo dos defuntos

Que foram nossos parentes

Hoje não estão presentes

Mas estarão sempre juntos.

Com pão de queijo e presuntos

E uma garrafa de pinga

As nossas mães ninguém xinga

Na união de dois conjuntos

A junta tem que ter untos

Do contrário nada vinga

Nós temos a nossa ginga

Somos dois grandes amigos

Para nossos inimigos

Não deixaremos restinga.

No jogo eu sou coringa

Pois jogar eu nada sei

Confundo dama com rei

Perco-me na caatinga

Mas caço a jacutinga

E ela tem que ser minha

Servida em minha cozinha

Num prato muito bem quente

Como fazia frequente

A minha boa mãezinha.

Ele respondeu que tinha

Muito para me dizer

Antes de a gente beber

Só teria uma prosinha

Sua voz era mansinha

Mas aos poucos se alterou

De repente ele gritou

E bateu na cara minha

Dizendo que ele só vinha

Cobrar quem não lhe pagou.

Se não sabe quem eu sou

Comigo vai se ferrar

Você deve e vai pagar

O que de mim emprestou

Minha mãe ele xingou

Eu só fiquei escutando

Ele se esbravejando

Mas com calma eu lhe falei

Um dia lhe pagarei

Só não posso dizer quando.

Ele estava espumando

De tanta raiva contida

Eu lhe disse que a vida

Já estava melhorando

Dinheiro vinha ajuntando

Na certa eu lhe pagaria

O montante que eu devia

Fazia até contrabando

Só não estava roubando

Porque isso eu não queria.

Aqui volte outro dia

Se eu tivesse dinheiro

Você seria o primeiro

Que de mim receberia

Para sair dessa fria

Usando da inteligência

Disse-lhe com reverência

Sei que estou em atraso

Mas ao pedir novo prazo

Ele não teve clemência.

Então perdi a paciência

Falei que não sou otário

Você é estelionatário

Ele disse com veemência

Que eu não tinha consciência

Eu me fiz de ouvido mouco

Mas gritei dando-lhe um soco

Devo tanto que nem sei

Só sei que já lhe paguei

E agora exijo meu troco.