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FOSSA DE MATUTO
 


Após entrar numa fossa,
por causa dos seus amores,
Zé das Brenhas se lamenta,
de menestrel cai de venta
e diz, num cordel, horrores.
 

« – Sei que fui um bobalhão,
até o instante que falo.
Mas vou pegar jeito novo,
ir tomar lições do povo,
lá desde o cantar do galo.
 

O povo diz que ninguém
ame sem moderação,
que amor é que nem cachaça:
se a ele a gente se abraça,
tem pileque e vem paixão.
 

Pois, de paixão, um otário,
amei a quem nem devia;
fiz também o que não pude,
gastei sem conta a saúde
com meus xodós por Maria.
 

Pego do mundo a pisada,
das paixões devo sair.
Vou além, por outros mares,
verei distantes lugares,
por onde dela fugir.
 

Depois de longos momentos,
dias, meses sem revê-la,
sem mais bemóis da saudade,
tomo chás da liberdade
e me amoito numa estrela. »
 
 
Assim falou Zé das Brenhas,
até em tom majestático,
senão num rasgo poético.
Contudo, ainda mais cético,
Zé sentenciou enfático:
 

« – É... O que de melhor faço
é nada fazer, então.
Com outro, curo o meu porre,
que de fossa ninguém morre,
embora dê depressão. »
 

Na fossa que o torturava,
Zé tentou ser o revel:
viu-se a lembrar de Gisele,
sentiu Beatriz na pele,
nos olhos pondo Isabel.  
 

E o capiau se fez triste,
em grandes traumas doídos,
tentando olvidar Maria;
só que a dona lhe sorria,
no telão dos seus sentidos.
 


Fort., 23/09/2013.  
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 23/09/2013
Reeditado em 23/09/2013
Código do texto: T4494245
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