Passarinho do Nordeste
Tá no verde passarinho
Motivo da minha alegria
Até sem razão, eu diria
Felicidade é o caminho
Periquito leva mensagem
É assunto confidencial
Amor, segredo e coragem
As palavras deste casal
E aqueles que lá estão
Atravancando caminho
Firmeza, pois passarão
Morena, és passarinho
O amor é mesmo assim
Nasce no fundo da alma
Canta que nem passarim
Que nos acorda e acalma
Sou o bem-te-vi amarelo
Meu canto é meio choroso
Morena, no cordel teimoso
Eu digo que o amor é belo
Morena, teu desfile, revoada
Passarim batendo as asinhas
A imagem do voo me agrada
E eu sigo cantando trovinhas
É coisa maluca, noite e dia
No repente me apego a ti
Pareço menino, bem-te-vi
Meu canto é cordel, alegria
Sou bem-te-vi do agreste
Pássaro do papo amarelo
Por ti um amor tão singelo
Meu voo é Norte-Nordeste
Não sou bem-te-vi de igreja
É que não gosto de exibição
Que nosso amor assim seja
Pois, da vida aprendi a lição
No amanhecer vou cantar
Castanha é bom com caju
Grande pitanga ou guassu
Pituã, pitaguá, puintaguá
Sou ave, galo-de-campina
Sou cardeal-do-nordeste
Fiz do meu canto o teste
Pra te encantar, menina
Rubras, cabeça e garganta
O bando vive na caatinga
Pra te amar sem mandinga
Amor é semente e se planta
Galo não é barriga-branca
Nem gosta da cor cinzenta
Meu jogo é bom e esquenta
E ela não sai da retranca
Neste cordel canta o sabiá
Dos pássaros rei seresteiro
Eu canto pro mundo inteiro
Morena, em primeiro lugar
Meu canto é assim melodioso
Pássaro nenhum me condena
No cordel sou músico da pena
O sabiá tem som maravilhoso
Meu canto, amor, é de vera
Origem na minha terra natal
Menina, meu amor te espera
Nos campos, fazenda, capital
No versinho cabe tanto canto
No cordel eu brinco de sabiá
Com tantas aves me encanto
Se eu canto é só pra te amar
A ave-símbolo do Brasil
Canta coisas boas da vida
Falei numa rima atrevida
A morena cantei no fiu-fiu
Deriva do tupi haabi'á
É paz, amor, felicidade
Seja no campo ou cidade
Me adapto ao seu habitat
Sabiá, teu canto é inspiração
Ave do ventre de ferrugem
Teu corpo combina penugem
Sons desabrocham a emoção
Canário-do-reino, canarinho
Das ilhas Canárias e Açores
Presente, reino de amores
Sou ave canora, passarinho
Canto de dia, na madrugada
Canário-da-terra é brasileiro
Canário amarelo verdadeiro
Dançando em volta da amada
Canarinho-belga amarelo
De cor, de som e de porte
De canto extenso e forte
Canto melodioso e singelo
Cantava baixo no cativeiro
Mudei pena, dona e ninho
Coração licenciado, solteiro
Que vale a pena, passarinho
Falar de amor é o meu forte
Não fujo de rinha ou quartel
Briga de macho, quase morte
Prefiro a rinha do bom cordel
Tu que voas de mansinho
E o poeta, que tanto voou
Tu que cantas, passarinho!
Tem pena d'eu, alivia a dor...
Com as bênçãos de: Mário Quintana, Patativa do Assaré (O sabiá e o gavião), Gonçalves Dias (Canção do exílio), Luiz Gonzaga.