A queda da mula

Eu vivi num lugarejo

Ouvindo ronco de sapo

Canto de grilo de noite

E o miado do gato

Onde brasa é o isqueiro

Onde não tinha banheiro

Onde se caga no mato

Comia jaca madura

Chupava laranja peca

Ia montado na mula

Curti uma micareta

De madrugada eu voltava

E minha mula empacava

Numa estradinha estreita

Essa mula referida

Era amiga de tetela

Que você já bem conhece

Pois já falei muito dela

Refugava e dava um pulo

Porem eu tava seguro

Firme no birro da cela

Mas um dia aconteceu

Algo muito diferente

Eu fui na venda de laro

E tomei um aguardente

Chegando lá na vereda

Segurei cá mão esquerda

O birro olhando pra frente

E então aconteceu

Como sempre acontecia

Empacando ela pulou

Pro lado esquerdo da via

Eu então deu um espirro

Minha mão soltou do birro

E cai na terra fria

A mula desembestou

Como sempre aconteceu

Eu caído deslembrado

Num escuro igual a breu

Minha mula saiu fora

Com medo de caipora

Eu disse agora fedeu

Porém o meu pensamento

De cabra velho do norte

Falou naquele momento

Que eu pressentia a morte

Faça o sinal da cruz

E reze para jesus

Mas tem que ser reza forte

Eu rezei o santo oficio

Também a salve rainha

Ave-maria dez vezes

E eu mesmo respondia

Oreio o creio em Deus pai

E jurei que nunca mais

Outra cachaça eu bebia

Então naquele momento

Mudou a situação

Senti a terra tremendo

E abrir um buracão

Começou chover bem forte

Eu pensei assim a morte

Vai me levar pro caixão

Eu ali muito assustado

Me senti em desespero

Fui de cabeça num ralo

E despenquei num bueiro

Mas era só o inicio

Dum bem mais forte suplicio

Pior do que o primeiro

Não era ralo comum

Como ralo de banheiro

Deslizando por um cano

Que não suportava o cheiro

Igualzinho um grande rato

Cai dentro de dois pratos

Porém não cheguei primeiro

Porque já tinha chegado

Um humorista de fama

Que o seu passado fede

Bem mais pior do que lama

Que rebola igual a bicha

Se eu puxar sua ficha

Quem votou nele reclama

Eram dois pratos graúdos

Invertido em posição

Sem saber quem guarda o certo

Ou quem protege o que não

E então nessa peleja

Eu pensei: Deus assim seja

Cruzando a testa cá mão

Me senti ali sozinho

Igual espinho sem rosa

Num grande poço fedido

De lama bem esclerosa

Sentindo-me um flagelo

Com o semblante amarelo

Comecei a minha prosa

Conversei com Guilhermino

E com um tal de abreu

Com um rapaz pequenino

Bem mais baixinho que eu

Mexi a massa fedida

E cutuquei na ferida

Aí a coisa fedeu

Pois a primeira pergunta

Era dizer sim ou não

Se conhecia a jogada

Que rolava no salão

Quem aqui é mensaleiro

Que recebe meu dinheiro

Em forma de mensalão

Mensalão vinha por fora

Pra confundi o otário

Um extra grande pra eles

Que superava o salario

E então sem ter resposta

Eu vi um cara de bosta

Com o nome de somario

Eu segui mais um pouquinho

Para tudo confirmar

Conversei com um cantor

Que não sabe nem cantar

Mas vai ficar quatro anos

O meu imposto ganhando

E eu nem posso cobrar

Conversei com um dos tais

Mais velhaco que raposa

Um cantor também famoso

Que soqueou a esposa

E um professor de fama

Deitado dentro da lama

Com a cabeça na lousa

Conversei com um esperto

Que ventilou a má fama

Com um tal Zé adultério

Deitado rindo na cama

E por mais que me intrigue

Falei com bispo rodrigues

E com me sinto na lama

Tinha mensaleiro novo

Tinha mensaleiro velho

Tinha um tal Zé atocha

E Leone escaravelhos

E vi andando no salto

Um tal de riso de gato

Indo para o ministério

Eu lembrei da minha mula

Que me traiu certo dia

Que me deixou derrotado

Sem saber o que fazia

Mas então fiquei ciente

E votei dali pra frente

Sempre em quem merecia

As rapinas dos ímpios os destruirão, porquanto se recusam a fazer justiça.

Provérbios 21:7

joãocorin
Enviado por joãocorin em 21/09/2013
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