AS LENDAS DE LAMPIÃO..
Lampião rei do cangaço,
Foi um cabra destemido,
E não arredava o passo,
Sendo o caso encardido,
No meio da cabroeira,
Ninguém falava besteira,
Com medo de ser punido.
Morreu já há muito tempo,
Mas dele se conta a lenda,
Que ele causava tormento,
Pra coronéis nas fazendas,
E onde Lampião passava,
O desmantelo ali ficava,
Com ele não tinha emenda.
Enquanto aqui era vivo,
Foi o terror do sertão,
O que passara em seu crivo,
Sempre aprendia a lição,
Com ele o bicho era feio,
Pois não caçava arrodeios,
Em qualquer ocasião.
Matava rasgava o bucho,
Pra ele não tinha terça,
Não ligava para o luxo,
E nem aturava queixas,
Aquele que muito falava,
A língua ele arrancava,
Pra não se meter a besta.
Ai daquele que mexesse,
Com a tal Maria bonita,
O cabra que se atrevesse,
Ficava bem ruim na fita,
Com esses o cangaceiro,
Tirava os olhos primeiro,
Pra não olha a bendita.
Aos vinte e oito de julho,
O cabra cruzou a ponte,
E não levou de embrulho,
Inda há alguém que conte,
Ele passou pro outro lado,
Dizem que foi alvejado,
Numa trincheira defronte.
Um certo dia Lampião,
Pediu pra uma senhora,
Nas andanças no sertão,
Isso quase onze horas,
Que lhe fizesse comida,
Pois ali muitas barrigas,
Tavam de língua de fora.
A senhora amedrontada,
A Lampião logo atendeu,
Porem já muito assustada,
Um grave erro cometeu,
Fez uma panela de sopa,
Porém deixou-a insossa,
De colocar sal esqueceu.
Lampião comeu a sopa,
Sem de nada reclamar,
Bebeu água e disse opa,
Bucho cheio é pra andar,
Um cangaceiro fez mal,
Reclamou pedindo sal,
Pra na sopa colocar.
Lampião indignou-se,
Com a tal reclamação,
Ao cabra atarracou-se,
Com seu punhal na mão,
Dizendo não leve a mal,
Traga-me um saco de sal,
Vou conter o reclamão.
E Lampião bem ligeiro,
Aquele sal derramou,
No prato o cangaceiro,
Que em nada se alterou,
Pois na ponta do punhal,
Obrigou-se comer o sal,
E ali mesmo inspirou.
Não gosto de injustiças,
Dizia assim o Lampião,
Comigo não há preguiça,
Não suporto reclamão,
Ganhou de graça a comida,
Comeu encheu a barriga,
E pra quê reclamação.
Dizem que um certo dia,
Lampião ao caminhar,
Observou que não havia,
Mais cigarros pra fumar,
Ai então sentiu o cheiro,
De um cigarro palheiro,
Saiu do bando a procurar.
Logo adiante encontrou,
Um sujeito que fumava,
Porem em nada assuntou,
Ao perceber que chegava,
Foi quando viu Lampião,
Com o seu rifle na mão,
Com forte voz indagava.
Disse ele o senhor fuma,
Perguntou naquela hora,
O individuo disse Cuma,
Já querendo dar o fora,
E disse fumo sim senhor,
Não me mate, por favor,
Mas se quiser paro agora.
Lampião pediu apenas,
Uma parte daquele fumo,
Tão logo saiu da sena,
Deixando ali em resumo,
Aquele homem pasmado,
Já quase todo borrado,
Perdido ali sem aprumo.
Uma outra vez o Lampião,
De ódio foi se transtornado,
Ao saber que certo irmão,
Ter sua irmã estuprado,
Dessa forma o cangaceiro,
Pensou num plano certeiro,
Pra conter o desgraçado.
Disse-lhe ele esse pecado,
Vai acabar nesse momento,
Pegando o cabra flagrado,
Dentro de seus aposentos,
Achando ali um criado,
Preso por um cadeado,
Que lhe servia de assento.
Lampião pediu a chave,
E abriu dele uma gaveta,
E fez com que esse sujeito,
Gritasse igual o capeta,
Ao saber do que tratava,
O pobre homem chorava,
Quando viu a coisa preta.
E disse com veemência,
Seus testículos vou trancar,
E não me peça clemência,
Pra isso não te obrigar,
Esse tal cabra se borrou,
Seu íntimo excomungou,
Mas não pode escapar.
Ali trancou os testículos,
Numa gaveta do criado,
Levou a chave consigo,
Deixando ali trancado,
Dizendo-lhe Lampião,
Vou de deixar a opção,
Dando punhal amolado.
Vou bem ali e volto logo,
Se na volta eu encontrar,
Digo-te que não há rogo,
Pra da minha mão te livrar,
Mas se ainda quer viver,
É bom depressa resolver,
Não deixe eu te encontrar.
O sujeito bem depressa,
Quando lampião partiu,
Tentou carregar a peça,
Mas o criado não saiu,
Temendo um maior mal,
Empunhou o tal punhal,
Cortou o saco e sumiu.
Lampião não voltou mais,
Pra saber do resultado,
Porém desse tal rapaz,
Viu-se o boato contado,
Eu só sei que Lampião,
Dominou todo o sertão,
Inicio do século passado.
Cosme B Araujo.
19/09/213.