Negra de rara beleza
Comigo é preto no branco
Negra, teus dentes, marfim
Eu falo, morena, sou franco
Amar em cordel, vivo assim
Período negro na história
Negro também é o mouro
Chibata e chicote no couro
Negro guarda na memória
Tal qual um jumento pega
No pelouro, trabalho e sova
Muita peia em nego e nega
Afrodescendente, uma ova!
Negra no jogo, desempate
Os olhos são de jabuticaba
Do azul que nunca se acaba
Da nega só levei chocolate
Morena da cor de carvão
Morena, tua pele escura
Uma beleza tua escultura
Do teu corpo exala paixão
Não tenho ambições na vida
Só uma coisa eu quero muito
Ao meu corpo tu vivas unida
Mas, tudo misturado e junto
És minha negra e rainha
Eu sou teu escravo feliz
Um voluntário, aprendiz
Do teu amor, ô pretinha
Menina, se a coisa ficar preta
Não nego a cor da minha raça
Para sorrir eu não faço careta
E o cordel é a minha cachaça
Não me perco na escuridão
Nem vivo à sombra de muro
E não faço negócio obscuro
Às escuras eu não vivo, não
Da cor do ébano, mulata
Cordel não fica obsoleto
Até com um lápis preto
Escrevo e digo na lata
Minha deusa morena africana
Qual niger, negra, mulheraça
Ou seria imperatriz soberana?
Teu reinado de amor é massa
Na pele mulata o desejo
Morena, que cor é essa?
Vivo pagando promessa
Peço e imploro teu beijo
Pretinho básico ela veste
O corpo esguio é sutileza
Lótus negra, rara beleza
A morena do azul celeste
É negra, níger ou Nigéria
No quadro-negro escrevo
Rimo o amor e me atrevo
O cordel é minha matéria
Coração, não fiz apartheid
Mulheres de todas as cores
Espaço pra muitos amores
Maria, Francisca e Adelaide
Que venha negra ou branca
Que tenha amor de amarela
Jogo do amor sem retranca
Mulher, arco-íris, aquarela
Salve, Bob Marley, Maíra Martim, Ulisses Tavares!