Como o frouxo Pamonha humilhou o Django do Sertão



I
Na região do nordeste
Estado de Pernambuco
Existe um cara maluco
Caboclo brabo da peste
Não existe quem conteste
Algum argumento seu
Quem tentou se escafedeu
Não tá vivo pra contar
Mas eu fui lá pra provar
Que ele é mais frouxo que eu

II
Na cidade do sujeito
Ele era o manda chuva
Tinha deixado viúva
A esposa do prefeito
A do Juiz de Direito
E a mulher do delegado
Teve até um deputado
Que ganhou a eleição
Mas no fim da apuração
Foi por ele executado

III
Ele fora batizado
Com o nome de Abraão
Mas, “O Django do Sertão”
Logo foi apelidado
Ele era muito afamado
Como exímio pistoleiro
Matou gente por dinheiro
Matou gente de emboscada
Com revólver ou de facada
É um cabra traiçoeiro

IV
Lá na minha região
Sou matador conhecido
Se eu disser meu apelido
Dispensa apresentação
Pergunte a qualquer machão
Quem não conhece “Pamonha”
Sou filho de Zé Peçonha
E neto de Cabo Augusto
Já matei vinte de susto
E uns trinta de vergonha

V
Matei de decepção
Também matei de saudade
Meu pai de ansiedade
E mamãe de aflição
Por isso a população
Pediu-me pra desistir
Antes mesmo de eu partir
Pra enfrentar o malvado
Já morreu um espantado
E dez morreram de rir

VI
Quando cheguei na entrada
Da cidade do sujeito
Achei o lugar perfeito
Para armar minha cilada
Uma casa abandonada
Pertinho do cemitério
Como a morte é um mistério
Para quem ainda tá vivo
Eu usei esse motivo
Pra tirar ele do sério

VII
O povo do interior
Tem muita superstição
E não há nem exceção
Quando o cabra é matador
Quanto mais brabo ele for
É mais supersticioso
Quer ver um brabo medroso
Fale em assombração
Foi essa minha intenção
Pra deixar ele nervoso

VIII
Fiz da casa abandonada
Um cenário de terror
Escondi um gravador
Com uma mensagem gravada
Como se uma alma penada
Estivesse com a missão
De encontrar com Abraão
À noite no cemitério
Pra esclarecer o mistério
Da morte do seu irmão

IX
Gravei uma voz gemendo
Como fundo musical
O som de um temporal
E uma porta batendo
O cenário estava horrendo
Com as teias de aranha
Era ainda mais estranha
Aquela situação
Queria ver Abraão
Dizer que medo era manha

X
Espalhei na região
Que a casa abandonada
Estava mal assombrada
Foi tanta repercussão
Que juntou uma multidão
Só abrindo um corredor
Pra moto do matador
Quando ele desceu da moto
Com um controle remoto
Eu liguei o gravador

XI
Ao ouvir a gravação
A galera debandou
Uma mulher desmaiou
Correram sem direção
Ficamos eu e Abraão
E a mulher desmaiada
Levei-a para a calçada
E ajudei a despertar
Pra ela testemunhar
A farsa por mim armada

XII
Eu já tinha reparado
Que Abraão tava tremendo
E vi o mijo descendo
Pela perna do safado
Então cheguei ao seu lado
E fiz a provocação
Vai encarar valentão?
Ele me pediu segredo
E disse que tinha medo
De alma e assombração

XIII
Eu lhe disse: Meu amigo
Esse caso é muito sério
Se fores ao cemitério
Se quiseres vou contigo
Mas uma coisa eu te digo
Isso pode custar caro
Alma penada tem faro
Se notar minha presença
Vai dobrar tua sentença
O morto foi muito claro

XIV
Abraão nem me ouviu
Terminar de dar meu voto
Montou ligeiro na moto
Acelerou e partiu
A mulher tudo assistiu
Botei a porta no chão
E entrei de supetão
Simulei um exorcismo
E com o maior cinismo
Desliguei a gravação

XV
Ela saiu espalhando
Com um pouco de exagero
Que Abraão no desespero
Fugiu de lá se mijando
E que eu fui logo entrando
Na casa mal assombrada
Prendi a alma penada
E acabei com assombração
E a frouxura de Abraão
Foi notícia comentada

XVI
Quando eu entrei na cidade
A rua estava lotada
Todo mundo na calçada
Comentando a novidade
Se alguém descobre a verdade
Eu estaria encrencado
Com o segredo guardado
Foi “Django” quem fez vergonha
E agora era “Pamonha”
O frouxo mais respeitado
Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 13/09/2013
Reeditado em 17/09/2013
Código do texto: T4480585
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