PARA TODO MÊS DO ANO, CRIA-SE ALGUM FERIADO (Republicado)
Janeiro
Logo no dia primeiro,
O povo todo descansa,
Comemora, faz festança,
Assim começa janeiro.
Esse povo brasileiro
Tem de folga um bocado,
A fazer o seu agrado,
Sem qualquer sombra de engano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Fevereiro
Quase sempre é Carnaval
Que perdura o mês inteiro,
Para esse povo festeiro
Que, num ritmo anormal,
Faz loucura sem igual.
Por vezes é adiado
Esse folguedo danado
Em que o povo fica insano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Março
Tem o Carnaval, se não
Tiver a Semana Santa,
Mas a alegria é tanta,
Chegas às raias da efusão,
(De curtir o feriadão),
Que o pobre povo, coitado,
Mesmo estando endividado,
Faz um gasto leviano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Abril
Com Semana Santa, é festa,
Mas, não tendo, não faz falta,
Já que a preguiça é alta
E a turma não se presta
Ao trabalho e ainda resta
Mais um dia relembrado
(Tiradentes enforcado)
E o Corpus Cristi, né, mano?
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Maio
Ora, haja paciência,
Pois, no dia do trabalho,
De outra folga me valho,
Por força de incongruência
De pensar, Sua Excelência,
Na preguiça do folgado
E dar a ele o legado
De, ao labor, causar dano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Junho
Esse tem festas demais,
O povo dança quadrilha
Da boa (não camarilha)
E bebe, a não poder mais,
Sendo até muito capaz
De parecer devotado
Aos santos comemorados
Por militar e paisano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Julho
É mês em que a produção
Faz-se plena e sem parada,
Não se interrompe a jornada
De trabalho do povão,
Para o bem desta Nação,
Mas tem recesso sagrado
Na Câmara e no Senado
(Vida de ginasiano.)
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Agosto
O mesmo se diz de agosto,
Trabalhar é a premissa
Que, ao tal progresso, iça
O país - mês do desgosto
Mais completo e, isto posto,
Cada um se vê forçado
A labutar feito gado,
Pra carregar o piano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Setembro
Se não fora uma indecência,
Bem se justificaria
Nossa imensa alegria
De, com garbo e excelência
Celebrar a independência.
Mas, pelas tramas do fado,
Tal prazer não foi logrado,
Num esbulho desumano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Outubro
Tem o dia do criança,
Que um famoso presidente,
Homem honesto, decente,
Em ridícula lambança,
Mal de que nunca se cansa,
Deu, a ser comemorado,
Mas, ficando envergonhado,
O fez por baixo do pano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Novembro
República proclamada,
Parece show de civismo,
Não fora pelo cinismo
Da História mal contada,
Enrolando a criançada
E ainda, aos finados,
Concedem serem lembrados,
Já que vivem noutro plano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Dezembro
Enfim, o mês do Natal,
Quando a fraternidade
Até parece verdade,
Mas, no fundo, é tudo igual,
Só importa a cada qual
Ver, na vida, o próprio lado
E o comércio exacerbado
Nos faz entrar pelo cano.
Para todo mês do ano,
Cria-se algum feriado.
Obrigado, Luiz, pela belíssima interação.
Sem contar que ainda tem mais
Que passam despercebidos
Nem fazem tanto alarido
Alguns são municipais
Outros são estaduais
Onde o gasto é redobrado
Com festa pra todo lado
Trabalhar?... Segundo plano
Para todo mês do ano
Cria-se algum feriado.
(LUIZ MORAES)