EU E OLAVO BILAC NUMA INCRÍVEL PARCERIA

A avó

Olavo Bilac/Marcos Medeiros

Quando a vida descaminha

A avó, que tem oitenta anos,

Está tão fraca e velhinha! . . .

Teve tantos desenganos!

Ficou branquinha, branquinha,

Com os desgostos humanos.

Cheia de melancolia,

Hoje, na sua cadeira,

Repousa, pálida e fria,

Depois de tanta canseira:

E cochila todo o dia,

E cochila a noite inteira.

Sua velhice não cala

Às vezes, porém, o bando

Dos netos invade a sala . . .

Entram rindo e papagueando:

Este briga, aquele fala,

Aquele dança, pulando . . .

Despertando sua candura

A velha acorda sorrindo,

E a alegria a transfigura;

Seu rosto fica mais lindo,

Vendo tanta travessura,

E tanto barulho ouvindo.

Falando suavemente,

Chama os netos adorados,

Beija-os, e, tremulamente,

Passa os dedos engelhados,

Lentamente, lentamente,

Por seus cabelos, doirados.

Relembra os tempos de glória

Fica mais moça, e palpita,

E recupera a memória,

Quando um dos netinhos grita:

"Ó vovó! conte uma história!

Conte uma história bonita!"

Com tantos anos de esperas

Então, com frases pausadas,

Conta historias de quimeras,

Em que há palácios de fadas,

E feiticeiras, e feras,

E princesas encantadas . . .

Vai contando, vai contando

E os netinhos estremecem,

Os contos acompanhando,

E as travessuras esquecem,

— Até que, a fronte inclinando

Sobre o seu colo, adormecem . . .

Virei parceiro, em cordel, de Olavo Bilac, agora, fazendo aqui meu papel, pra quem o cordel adora, tentando ser bem fiel, à imagem da avó de outrora. Gente, eu simplesmente coloquei um verso no início de cada estrofe do poema de Bilac para mostrar que o erudito e o popular podem andar de mãos dadas, pois o conhecimento, assim como a poesia, é universal e não deve estar preso à noção da academia, enquanto instituição sistematizadora do saber!

Agradecimentos especiais, e pedido de licença, à poetisa e escritora Carmem Vasconcelos, que publicou o poema de Bilac.

Natal, 02 de setembro de 2013