PROMESSAS PRA CONCEIÇÃO
No início de dezembro,
Com fé e muita emoção,
Os fiéis sobem a ladeira
Do Morro da Conceição.
Enchendo ruas e praças
Muitos vão lá render graças
E alguns só pra trabalhar.
É que o bom comerciante
Nesse momento importante
Também precisa lucrar.
Para começar a festa
Tudo começa a mudar
A prefeitura de empenha
Manda limpar, capinar.
Até mesmo os moradores
Passam a ser vendedores
De tudo que se procura.
Vendem fitas coloridas,
Terços, relógios, bebidas,
Salsichão e rapadura.
Casas ganham gambiarras
E recebem tinta nova.
Com coloridos bonitos
Que qualquer turista aprova.
Quem tem criatividade
Vira artesão de verdade
Com pouca imaginação
Fazendo santos de barro,
Miniaturas de carro,
E até de Frei Damião.
D’um lado ao outro da rua
Toda casa vira um bar.
Mulheres fazem promessas
Botam filhos pra pagar.
Políticos que são ateus
Fingem dar graças a Deus
Por ganharem a eleição,
Porém no resto do ano
Cada um faz o seu plano
Pra fazer corrupção.
A festa começa cedo,
Ainda no Marco Zero,
De onde sai a procissão
Comandada pelo clero.
Com cânticos e orações
Fiéis pedindo perdões
Por todos os seus pecados...
E a procissão segue andando
Com solteironas rezando
Para arranjar namorados.
São mais de oito quilômetros
Com fiéis andando a pé.
Vestidos de azul ou branco
Com esperança e com fé.
Sendo a fé o seu transporte,
Seguem na Avenida Norte
Pra chegar aos pés da Santa.
O povo se aglomerando
E a procissão aumentando
Onde até ateu se encanta.
Ao findar a procissão,
Já na subida do morro,
Encontram-se penitentes
Com pedidos de socorro.
Pagadores de promessas,
Usando roupa às avessas,
Subindo de pés descalços.
Pessoas ajoelhadas,
Pelas graças alcançadas,
Se livrando dos percalços.
José chegou lá no morro
Curioso e observando.
Viu deitado em pleno asfalto,
Um que subia “nadando”.
Viu gente pela ladeira
Levando cruz de madeira
Para a promessa pagar.
Romeiros de quatro pés
Parecendo jacarés
Se arrastando até sangrar.
Ele viu pelos degraus,
Da enorme escadaria,
A sua sogra subindo,
De costas, na romaria.
Também viu nessa subida
Uma cena dolorida,
Mas olhou sem fazer nada.
É que a velha escorregou
E depois que ela tombou
Desceu rolando na escada.
Então, perguntei pra Zé:
Você só ficou olhando?
Deixou a sogra cair
De escada a baixo, rolando?
E ele pra se defender
Disse: não vou me meter
Numa cena como essa.
Se ela resolveu rolar,
Eu não posso atrapalhar.
Será que não foi promessa?