SÃO JOÃO NO SERTÃO:

Quando chega o mês de Junho

Até o céu é diferente,

Com bandeirolas voando

Balões encantado a gente,

Com seu lindo colorido

Que não sai da minha mente.

O são João é uma festa

De grande repercussão,

Seja no sitio ou cidade

É grande a animação,

Tanto na parte festeira

Quanto na religião.

Na véspera do dia santo

Começa com a trabalheira,

As mulheres vão pra rosa

Quebrar milho de primeira,

Os homens vão buscar lenha

Para fazer a fogueira.

No alpendre da cozinha

tem milho pra todo lado

Coco seco pra raspar,

Manteiga e leite de gado,

E embaixo de um balaio

Três capão gordo amarrado.

Da sala se sente o cheiro,

Que lá da cozinha vem,

De pamonha, milho verde,

Arroz doce e xerém,

Bolo xadrez e canjica,

Pé de moleque também.

A sinhá ainda pergunta

Se não tá faltando nada,

Tudo tem que está perfeito

Pra festa ser animada,

Comida bebida e forró

Pra esquentar a rapaziada.

Tá faltando sim senhora!

Grita comadre Zefinha,

Falta preparar ligeiro,

O bode, o carneiro e a galinha,

O picado e a buchada

Já tá bem temperadinho.

Todos dividem as tarefas

Pra tudo ficar perfeito,

Os homens cuidam das carnes

Para fazer o banquete,

As moças enfeitam a área

Do mastro até os piquetes.

A meninada ajudando

Como se fosse brincadeira,

Catam as palhas de milho

Depois saem na carreira,

Pra ver quem chega primeiro

pra pegar a derradeira.

Depois de tudo arrumado

Para a noitada de festa,

A rapaziada ouriçada

Quebrando o chapéu na testa,

Calçando botas de couro

Camisa de xadrez e mescla.

Lá pelas cinco da tarde

Todos prontos pra rezar,

O terço de São João

Pra ele abençoar.

Os dois dias de festejo

Daquele belo lugar.

Depois vem a procissão,

O ato mais esperado,

Com as beatas na frente

Todos vão no mesmo passo,

No altar São João menino

Com o carneirinho no braço.

De um lado são João Batista

De flores todo enfeitado,

Do outro lado Jesus

Com o seu manto encarnado,

A frente nossa senhora

Guiando todos os passos.

Terminada a procissão

É hora de começar,

Acendendo a fogueira

E soltando o rojão no ar,

Para anunciar a todos

Que a festa vai começar.

No terreiro a fogueira,

De lenha bem arrochada,

Mais longe, o pau de cebo

Com uma nota pendurada,

Pros homens tentar pegar

E conquistar a mulherada.

É assim a abertura

Do são João no sertão,

Depois das bençãos recebidas

Vem a comemoração,

Com muita comida tipica,

E muita animação.

Lá no quarto a moçada,

Com seus vestidos de chita,

Passando batom e ruge,

Para ficar mais bonita,

Nos cabelos duas tranças,

Com um belo laço de fita.

A lua brilhando no céu,

Fogueira acesa no chão,

No salão gente dançando,

Xote, xaxado e baião,

Festejando o carneirinho,

Na noite de são João.

No salão o tocador,

Afinando os instrumentos,

Sanfona, triângulo e zabumba,

No mais fino acabamento,

No recanto da parede,

Um pote com pinga dentro;

E assim começa a festa

Todo mundo animado,

Forró, comida e bebida,

Menino pra doto lado,

E ao redor da fogueira

Os casais de namorado.

As brincadeiras de roda,

Passarás, passa o anel,

Adivinhação de frutas

As historias de cordel,

Cadê o grilo? pega soltou,

Passa e repassa o chapel.

As criancinhas pequenas

Soltando os trac-tracs,

Estrelinhas no escuro

Pra ver melhor a claridade,

Brincando e se divertindo

Sem ter nem uma maldade.

O forró tá arrochado

Mais ninguém arreda o pé,

Se tiver faltando homem

Dança mulher com mulher,

Ou então pega a vassoura

Para tomar quem quiser.

A noite passa feliz

Vem terminando a noitada,

A aurora espalhando

O frio na madrugada,

A fogueira se apagando

Com a cinza toda espalhada.

Com o frio vem a madrugada

Anunciando o raiar do dia,

Todos correm para ver

Essa grande maravilha,

A noite indo embora

Se despedindo do dia.

Esse é o final dessa festa

O tocador se despediu,

Tocou o ultimo forró,

Bebeu uma pinga e saiu

Com uma moça do lado,

Pra onde ele foi ninguém viu.

E quando o tocador se vai

A festa também acaba,

Os que resta vão saindo

Voltando pra suas casas,

Recompor as energias

Pra outra festa animada.

Nesta festa não estive,

Tudo isso imaginei,

Puxei de minhas lembranças,

De outras que participei,

Do São João no sertão

Nunca me esquecerei.

Jacipoesia
Enviado por Jacipoesia em 16/08/2013
Reeditado em 06/06/2016
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