PROGRAMA MAIS MÉDICO COMO TRADUZIR AS DOENÇAS?

Com o Programa mais Médicos

O governo brasileiro

Quer atender nosso povo

Com médicos estrangeiros.

Como serão as consultas

Com estes tais forasteiros?

Sem conhecer nossa língua

E as doenças tropicais.

Que em muitas medicinas

Não faz parte dos anais.

Além das dificuldades

Das falas regionais.

Quem iria traduzir

Pra médico estrangeiro.

A queixa de um cearense

Dizendo que tem cobreiro.

Se pouca gente conhece

Esse pequeno roteiro.

Aqui no nosso Ceará

Tem “ispiela caída”,

“quebrante”, dor nos quartos,

e as “juntas dismintidas”,

Passamento e cachingar,

E campainha caída.

Estalicido, pilora,

Pereba, frieira e dordói,

Ingua, bode, Maria Preta,

Treisol, remela no zoi.

Dismiliguido, curuba,

Bicho de pé é de mói.

Ingua e catarro no peito,

Pano branco, dor de viado.

Mucuim, corpo reimoso,

Fininha, bucho quebrado,

Gastura, moleira mole,

Papera, quarto arriado.

Intalo, papoca d’água,

Nó nas tripas e algueiro,

Estupor, dor nas cadeiras,

Dor no mucumbu, cobreiro

Iscoliose, coqueluche,

Estupor, gogo e unheiro.

Isquentamento, fastio,

Verruga , dor no espinhaço

Unha fofa, dentiquero,

Solavanco no cabaço.

Pá quebrada, dente podi,

No coração tem cansaço.

Até cavalo de cristo.

No pé chaboque arrancado,

Lundu, calombo, resguardo.

Tem juei desmantelado,

Calo seco, papoquinha

E zovido istorado.

Entojo, pilora, xanha.

Pra morroida, sete couro.

Bicheira, corpo muído,

Só mastruz e chá de louro.

Difruço, gota inframada,

Reza braba tira agouro.

Moco, tosse de cachorro,

Caduquice, pé inchado,

Queimadeira, farnizim,

Brotoeja, empazinado,

Ruçara, canela triada,

Vento caído, empachado.

Alojo, água nas juntas

E zumbido nosovido.

Zovo goro, vazamento,

Água na junta, intupido,

Nervo torto, isquicimento,

Papoca, figo ofendido.

Tem corpo esmorecido,

Pito froxo, incriziado.

Tem dor na tauba dos quexos,

E juízo aperriado.

É tanta doença esquisita.

Pra médicos contratados.

Que se faz neste país

Nunca tem planejamento.

As decisões são tomadas

Por impulsos de momento.

Depois sobra para o povo

As dívidas, os tormentos.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, AGOSTO 2013.