XAVICO

Uma homenagem a um personagem de Maués -AM

Quem não conheceu, perdeu

Mas esse tal do Xavico

(Não confundir com Jamico)

Era homem de muitas prendas

Não sei se ele tinha rendas

Nos contos e causos da beira

Nas lendas contadas na feira

Era assunto de contenda.

Dizem que os infelizes

Que perdiam motores no fundo do rio

Por desleixo ou por extravio

O Xavico, com muito orgulho

Ia fundo, num demorado mergulho

Dois minutos, três... cinco ou seis

Todo dia, durante todo um mês

Mas trazia do fundo o bagulho.

Depois, ele se enchia de pavulagem

Sem modéstia, arrotava bacaba

Nem mesmo uma história se acaba

Vinha outra, mais forte e maior

Da pescaria onde quase levou a pior

De uma piraíba muito da gigante

Enroscou-se no anzol e no barbante

Que tirou da água com um trator

Contava que um moleque doente

Com febre brava de tremer o leito

Não tinha médico que desse jeito

Num tambor com água derramando até

De cabeça pra baixo, seguro pelo pé

Enfiou o menino e a febre sumiu

O moleque ficou com o frio

E a água ficou pronta pro café.

Xavico era assim, nada mentiroso

Em dia de chuva ele queimava roçado

Falava com Deus, era abençoado

O porronca que sempre fumava

Sempre aceso, nunca apagava

Quando acabava no fundo do rio

Emergia, acendia outro no avio

E com ele aceso, mergulhava.

Xavico não gostava de chacotas

Que rissem de seus sérios relatos

A todos apresentava como fatos

Verídicos e bem fundamentados

Como o surubim com linha trinta pescado

Num anzol pequeno, de pescar sardinha

O peixe que mais vinte quilos tinha

Fora fisgado no dente cariado.

Se você acha que não é verdade

Pesquise lá pelos pergaminhos

Que é mais fácil um pássaro sem ninho

Faltar chuva no mês de janeiro

O rio Amazonas secar por inteiro

Faltar água pro padre benzer

Faltar carniça pra urubu comer

Que esses contos não ser verdadeiros.