ZÉ COITÉ O MATADOR DE ONÇAS.

Quero aqui nesse cordel,

Contar pra todos vocês,

Mais um causo engraçado,

Mas não é de português,

É de um tal de Zé Coité,

Um matuto velho de fé,

Vocês vão rir desta vez.

Será contando a história,

De um famoso Zé Coité,

Diz-se matador de onça,

Com os olhos de caburé,

Mentiroso pra besteira,

Mui falador de asneiras,

Pras bandas de Catolé,

Chamava-se Zé Coité,

Pela forma que usava,

O seu corte de cabelo,

Todo povo comentava,

Do cocuruto pra baixo,

Raspava o bicho no casco,

E a outra parte deixava.

Pois a cabeça do sujeito,

Ficava igual uma coité,

Uma espécie de cabaça,

Muito usada por mulher,

Assim toda a redondeza,

Conheciam com certeza,

A fama desse tal de Zé.

Todo mundo o conhecia,

Como cabra despachado,

E metido a ser machão,

Andava sempre armado,

Gabava-se de cara dura,

Comigo não tem frescura,

Mato e não mando recado.

Deixe está que Zé Coité,

Tão metido a ser tinhoso,

Tinha medo até da sombra,

Pensa num cabra medroso,

Mas fingido a ser valente,

Encabulava muita gente,

Fingindo-se de corajoso.

Foi embora de sua terra,

Lá pro estado de Goiás,

Como não tinha estudos,

Em miséria contumaz,

Por não ter nada renda,

Foi parar numa fazenda,

Por nome de são Tomás.

Chegou bateu no portão,

Com a matula nas costas,

Dizendo procuro trabalho,

Sirvo até pra guarda costa,

Comigo não tem mancada,

Eu topo qualquer parada,

Aceito qualquer proposta.

Deixes ta que na fazenda,

O povo estava assombrado,

Com algo que acontecia,

Naquele pequeno povoado,

Com um bando de pintada,

Devorando a bezerrada,

Fazendo sumir o gado.

Levaram então Zé coité,

Pra conversar com o patrão,

Que depressa perguntou,

Que faz por aqui irmão,

Diga-me o que deseja,

Servindo-lhe na bandeja,

Um café com requeijão.

Zé Coité se apresentou,

Dizendo olha meu amigo,

Sou do estado da Bahia,

Nunca corri de perigo,

Se procurar vai achar,

Se o cabra se abestalhar,

Furo mesmo no umbigo.

Sou um matador de onças,

Essa é minha profissão,

Ta vendo esse meu punhal,

Pode acreditar meu patão,

Olhe já perdi até as contas,

Da quantidade de onças,

Que morreu na minha mão.

Disse-lhe o fazendeiro,

Pra mim vai ser vantajoso,

Contratar um cabra brabo,

Pra um serviço tão honroso,

Preciso fazer-lhe um teste,

Mas digo-lhe cabra da peste,

Não gosto de cara medroso.

Cabra pra ficar comigo,

Precisa ser muito macho,

Pois preciso de um peão,

Que tenha fogo no facho,

Pra ficar numa invernada,

Que tenho lá na chapada,

Depois daquele riacho.

Mas antes de lhe contratar,

Vou dizer o que acontece,

A minha fazenda é grande,

Nem todos aqui conhece,

E muitos que chegam aqui,

Quando param pra me ouvir,

Desse trabalho esmorece.

Você tem medo de onças?

Perguntou-lhe o fazendeiro,

Pois o emprego que tenho,

Não é pra qualquer rancheiro,

Ele é um tanto complicado,

Você deve proteger o gado,

De qualquer bicho matreiro.

Mas Zé Coité respondeu,

Sou um cabra desaforado,

Faço o serviço completo,

Não como nada enrolado,

Eu como o figo vou dizer,

Do animal que se atrever,

Vim devorar o seu gado.

Depois de muita conversa,

Foi que o homem decidiu,

Contratando ao Zé Coité,

Mas que depressa inquiriu,

Disse a um dos empregados,

Escolte o novo contratado,

Lá pro outro lado do rio.

Deixe-o naquela casinha,

Lá do meio da invernada,

Lá ele pode se arranchar,

De forma bem sossegada,

Entregue a ele a munição,

Pois essas onças do cão,

Hoje vão ter sua bocada.

E assim se foi Zé Coité,

Trabalhar pro fazendeiro,

Um sujeito bom de grana,

Negro bem forte e ligeiro,

Deu ordem ao empregado,

Levar Zé pro outro lado,

Numa função de vaqueiro.

Assim fez o empregado,

Como ordenou o patrão,

Pra lá levou Zé Coité,

Com fama de ser machão,

Porem já dizia consigo,

Esse sujeito meu amigo,

Está mais pra falastrão.

Deixou Zé e veio embora,

Lá no meio da invernada,

O que se via era carcaças,

Das criações devoradas,

Logo Zé Coité exclamou,

Proteja-me meu senhor,

Que entrei numa roubada.

Não dava mais pra voltar,

Pois já tava anoitecendo,

O jeito é ficar por aqui,

As suas pernas tremendo,

Logo começou a planejar,

A melhor forma de escapar,

Da fria que tava vivendo.

Logo a boquinha da noite,

Zé Coité não via mais nada,,

Aprontou-se pra dormir,

Na choupana da invernada,

Quando a escuridão chegou,

O medo dele se apossou,

Numa tremedeira lascada.

Sem ter onde se esconder,

E nem ter a onde se deitar,

O medo foi lhe apertando,

Que não deu pra segurar,

Foi então que se lembrou,

Da bagagem que levou,

Num pano foi se embrulhar.

Num repente Zé Coité,

Ouviu um esturro forte,

Era um bando de Bugio,

Isso lhe deixou sem norte,

Ali ele começou a rezar,

Pra todo santo que há,

Pediu proteção da morte.

Arregalou bem os olhos,

Porem mais nada ele via,

Com a imensa escuridão,

Qualquer bicho se escondia,

E o Zé todo acabrunhado,

Ficou lá dentro entocado,

Nem as suas orelhas mexia.

Disse consigo essa noite,

Vou passar toda acordada,

Aqui nesse ermo perdido,

Que se lasque dono e gado,

E o vulto que se mexer,

Vai de meu chumbo comer,

Com os olhos esbugalhados.

Devido ao grande cansaço,

Adormeceu sem querer,

Pra completar sua angústia,

Vocês nem queiram saber,

Bem tranqüilo ressonando,

Sonhou que vinha chegando,

Uma onça pra lhe comer.

Zé Coité deu o maior grito,

E partiu numa disparada,

Pensando que na verdade,

Era da tal onça a chegada,

Nem um pouco se lembrou,

Que seu pescoço enganchou,

Na bagagem ali deixada.

Na alça de sua mochila,

Foi seu pescoço enroscada,

E ele em grande carreira,

Pelo meio da invernada,

De longe se ouvia os gritos,

Do pobre Zé coité aflito,

Que assustou a boiada.

Só pensava em ser a onça,

Que vinha lhe perseguindo,

Abriu a boca no mundo,

Só se via o capim abrindo,

Com aquele peso nas costas,

Encheu as calças de bosta,

Fez pior do que menino.

Lá no meio da invernada,

A outra alça enganchou,

Num toco de assa- peixes,

Que por ali encontrou,

Zé Coité se esforçava,

Mas a alça não deixava,

Desvanecido estancou.

Virei comida de onças,

Pensou em tal embaraço,

Como pude me arriscar,

Me alongando nesse mato,

Não agüento mais correr,

Se você quer me comer,

Saiba que sou cabra macho.

Quando tava nessa luta,

Só aguardando a mordida,

Com as calças toda sujas,

Molhada e muito fedidas,

Nisso o dia amanheceu,

Foi então que percebeu,

Sua grande luta perdida.

Foi quando viu a mochila,

Em suas costas agarrada,

E ele ali feito um porco,

Numa catinga desgraçada,

Foi no córrego e se banhou,

E de fininho se mandou,

O porquê não contou nada.

Apenas passou na sede,

Naquelas primeiras horas,

Dizendo aos outros peões,

Amigos estou indo embora,

E falou para o seu patrão,

Eu já cumpri minha missão,

Botei suas onças pra fora.

Aqui termina esse causo,

Do personagem Zé Coité,

Vulgo matador de onças,

Que estava mais pra Mané,

Quem contou isso não sei,

Mas em cordel transformei,

Acredite quem quiser.

Cosme B Araujo.

09/08/2013.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 09/08/2013
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