LAMENTAÇÕES
Desejo compor um cordel
mas só lembro de tristeza
os meus olhos decaíram
de nada tenho certeza
estou numa escuridão
olhando estrelas do chão
sem cama, banho ou mesa
Ruge-me grande solidão
apunhala-me tanta dor
estou carente de tudo
roubaram de mim o amor
parece-me fim de mundo
lá no poço caí fundo
cobre-me grande amargor
Arrancaram meu coração
apagaram meu sorriso
levaram a felicidade
tiraram-me o paraíso
me fizeram em pedaços
deram nó em todos laços
jogaram o resto no lixo
Das mãos do destino peguei
um monte de alegria
contudo, se dissolvendo,
pois faltou sabedoria,
só em cinzas se transformou
apenas saudade ficou
sem o doce da fantasia
Como tudo já foi tão bom
eu brincava de ser feliz
parecia um menino
desenhando no chão com giz
porém eu podia sonhar
queria somente amar
o destino, contudo, não quis
Fiquei de ponta cabeça
rodei louco feito pião
um punhal tocou profundo
nas cordas do meu coração
rasgando-me por inteiro
como se rasga dinheiro
quando doidos o têm na mão
Foi quando me vi sozinho
cachorro velho deixado
na rua da amargura
doente, só, desprezado
sem um olhar de carinho
um pobre cão coitadinho
por todos abandonado
Faltou terra para meus pés
meu caminho escureceu
quem perde tesouros, chora,
foi isso que aconteceu
minha pérola mais pura
mulher cheia de doçura
se foi de mim, esvaneceu
Disse tanta que amava
esse tolo cordelista
só tinha olhares pra mim
contudo, não realista.
Se mostrou afetuosa
toda meiguice, dengosa,
era coisa de artista
Por muitos ano enganou
o poeta apaixonado
por ela andei nas nuvens
por um tempo fui amado
sonhei uns sonhos gozosos
em anos maravilhosos
mas fui mal interpretado
Foi de súbito, um dia:
Ela disse "vou embora
vou viver a própria vida
de mim quero ser senhora!"
Sem dizer mais nada, se foi
depois, nunca mais disse oi!
Minha alma, triste, chora.